Paraíso Triste
Ainda guardo a imagem daquele jovem rapaz vestindo
Uma desbotada camisa azul escrita com a palavra sexo
Na porta da velha escola em companhia de seus amigos
Sob a rachada marquise para se protegerem da chuva
Conversando acerca de coisas que não levam a nada
Disfarçando seu riso e sua libido da garota tresloucada
Que antes era metida e não falava com a nossa turma
E agora sai pela madrugada oferecendo seus dotes de puta
Enquanto carros e motos faíscam pelas ruas e avenidas
Inundando o ar de gasolina e de convites para a esbórnia
Nas vazias ondas de prazer com alguém desinteressante
Que torna ainda mais vazia a romântica ideia platônica
De que todo mundo deve dar sem a necessidade de receber
Mas todos nós éramos expoentes da juventude obstinada
Que não seguia convenções nem postulados acadêmicos
Vivendo em busca de novas doses cavalares de aventura
Ou de voluntário confinamento com garrafas de vinho
Que encharcavam os quartos desorganizados e sem ventilação
Cruzando a cidade em busca de algum trocado para a festa
Que atraía desde os esfarrapados até os idiotas abastados
Perambulando pela noite afora nas vielas do subúrbio
Procurando pela luz da inspiração nos bares de segunda
Tudo que era o sétimo céu da imundície do corpo e da alma
O refúgio perfeito para os desencontros das vis atitudes
Antes que houvesse a recaída como loucos anjos da devassidão
Que éramos apesar da máscara que usamos com sofrimento
Transmutados na legião do mal que riscava os muros da cidade
Que anunciava nos clubes, pavilhões e igrejas sua assunção
Benditos como uma facção do amor na mais pérfida língua
Que desejava percorrer o céu da boca de todos os malditos
E de nossas narinas ilesas antes do advento do úmido lenço
Que perfumava o ambiente com aroma de éter e benzina
Para sentir a mistura do clorofórmio com essência de erva proibida
Gargalhando com árvores que conversavam por horas e horas
Que alcovitavam as garotas sedentas por um orgasmo diferente
Nas indecifráveis orgias que jamais viram a voluptuosa luz do dia
Desejadas pelos enrustidos que trafegavam trôpegos pela noite
Entre êxtases carnais e discursos filosóficos de igualdade sexual
Massacrados pelos puritanos hipócritas que choravam a sós
Enquanto nossa turma tentava capturar uma brecha espacial
Dentro de um plano temporal teleguiado por micro-ondas divinas
Que aceleravam partículas subatômicas em um caldeirão de ideias
Concretas e visíveis como imagens justapostas de caleidoscópios
De injeção elétrica nos grandes motores de astronaves alienígenas
Que percorriam o Universo em busca da majestosa vulva apocalíptica
Recriando a substância do falo onomatopéico da quinta essência
Na exposição de todo pensamento juvenil que impregnava o cérebro
Desmistificado da roupagem colorida da moda reencarnacionista
Que transformava o tédio urbano em um oásis de um paraíso triste
Na graduação etílica do último acorde da nossa canção preferida
Autoria: (Paulo Barreto)
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