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Contos-->MUITOS TORCEDORES -- 01/01/2016 - 23:24 (PAULO FONTENELLE DE ARAUJO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




      Cora e seu marido Amadeu eram torcedores do Flamengo quando se conheceram, mas Cora era muito mais dedicada. Cora desejava que todos fossem flamenguistas, toda a população do Rio de Janeiro, restando aos outros times, apenas os seus próprios jogadores, o técnico, o roupeiro ou o presidente do Clube.


      Cora pensava assim e chamou muitos torcedores para o Flamengo, pois pregava sua torcida no ônibus, no trem, na praia. Sonhava com o Maracanã lotado, rodeado  apenas por uma grande faixa circular escrita MENGO.


      Cora e Amadeu conheceram-se em um jogo do Flamengo versus Botafogo. Cora não se conformava com a torcida adversária comemorando a vitória, tentou parar um Botafoguense na rua, convencê-lo a mudar de time, confundiu-se e encontrou o flamenguista Amadeu que, tão fervoroso em sua torcida, terminou como seu marido.


       Amadeu compreendia com exatidão o espanto da mulher diante de uma torcida oposta àquela devida ao Flamengo.


       Cora e Amadeu cassaram, passaram três anos planejando um filho entre campeonatos, mas durante o parto dessa primeira criança – quase nasceu em uma concentração de futebol antes de uma decisão da Copa Brasil - Cora subitamente compreendeu: nada poderia competir com aquele amor extraordinário criado dentro dela; algo maior do que seu amor ao Flamengo, tão maravilhoso quanto um título mundial após uma temporada invicta: o seu amor materno. 


      Quando Cora pela primeira vez deu o seu peito ao filho, sentiu chegar o alimento à boca da criança... ainda tentou cantar bem baixinho o hino do Flamengo, mas já era tarde para o time. Ele já estava em segundo lugar no seu coração de mãe.


      Por causa do amor materno, Cora diminuiu a força de sua torcida e o futebol perdeu algo da sua graça. Nada mais de Maracanã todos os fins de semana. Nada mais de ir trabalhar as segundas com a camisa do Flamengo. Nada mais de apenas falar sobre a temporada do Flamengo; a torcida era secundária, embora os clássicos merecessem a vitória rubro-negra por uma questão de hábito.


     Sexta-feira dia 22, Cora Bueno faleceu de causas naturais. Tinha sessenta anos. Deixa marido e dois filhos.


     (O marido nunca revelou à esposa, mesmo depois de tantos anos, ser torcedor ferrenho do Botafogo. Torcia no banheiro. Quem diria? A sua mulher, sempre considerada uma mulher belíssima e, por isso mesmo, rancorosa; talvez não suportasse traições complexas e misturas de tribos).



 DO LIVRO: TOUROS EM COPACABANA



      
 

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