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cronicas-->Crónicas da Vida Real -- 27/06/2007 - 22:34 (Maria Augusta Camargo Schimidt) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um depoimento emocionado



Foi assim de um mal estar repentino que o mundo desabou. Sofrimento, dor, correria, medo do desconhecido e a vida virou um caos.

Corredores enormes, macas, homens e mulheres de branco, num corre - corre acelerado... Era uma visão de horror.

Confesso que tive vontade de mudar de ninho, ver outros passarinhos, respirar outro ar. O pànico tomou conta de meu cérebro e me paralisou. Fiquei ali parada naquele corredor frio, olhando as filas intermináveis, vendo nos rostos que chegavam expectativas, expressões de dor e de tristeza. Não sei quanto tempo aquilo durou. Só sei que de repente, me dei conta de que algumas expressões mudavam. Já não eram mais de dor, mas de alívio. Consegui ver até certa dose de humor. Percebi então que eu estava diante do palco da vida, assistindo a um verdadeiro show de magia, onde os residentes, cumprindo o sagrado juramento regiam a orquestra com maestria.

Os bips ligados, monitorando corações me fizeram finalmente entender que ali havia vida.

Depois de horas de espera, de angustia, de duvidas, fui mandada de volta ao ninho, mas tive que deixar meu passarinho. Foi horrível, porque ninho sem passarinho chefe não é ninho que se preze.

Passou a noite interminável e lá fui eu de volta, enfrentar o longo dia de mais agonia...

Com medo e tristeza, flutuei de volta até o hospital - escola - SUS - sem convênios. Lá, fui recebida entre abraços de carinho e sorrisos de amizade, pelos anjos sem asas, vestidos de branco, que transitavam pelos corredores, afinal eram os mesmos que durante toda a noite aliviavam dor.

Meu passarinho estava ali, sem piar, deitado numa cama branquinha, cheirando a limpeza, dividindo o quarto com mais 2 passarinhos indefesos pela dor.

Confesso: ali encontrei o mais puro ninho de amor, a verdadeira solidariedade. Eram de outros ninhos por certo, cada um de uma árvore, mas tinham dentro do peito o alimento essencial à vida... O amor. Não havia ali sofisticação, nem prepotência nem falsos valores. Não eram internautas preocupados em destruir vidas, eram sim criaturas cheias de amor ao próximo com o carinho a flor da pele doída. Eram seres humanos que como muitos de nós, não precisam ver nem pegar. Eles estão ali, apenas para amar. E eu me comovi. Ali fiquei cinco dias acompanhando meu passarinho que não podia voar. Ali, aprendi o que é o verdadeiro amar.

Jamais pude imaginar que encontraria na saúde pública tanto amor, tanta compaixão, tanta doação. E senti vergonha. Vergonha de ter sido prepotente, de ter falado sem ver, de ter acreditado nesse punhado de gralhas falantes que berram o tempo todo se esquecendo de agradecer. Seria o mínimo a se fazer. Acredito sim que existe a parte podre da saúde, da educação, da política, do virtual e de tudo que é real. Mas eu vi a parte que me interessava da vida real. E agradeci. Vi com os olhos da razão e do coração e me lembrei que queria mudar de ninho para ver outros passarinhos. Não será preciso. Os passarinhos de cá cantam bonito e meu sabiá, graças a Deus já está voltando a cantar.

Augusta Schimidt

Campinas/27/06/07



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