Sonhei que percebia
tocavam em mim,
antes de me definirem como
o corpo.
Tocavam enquanto eu ainda estava quente.
Sonhei,
alguém me tocava,
antes da minha vida não fazer diferença.
E isso me despertava algo:
esse toque assim no fim,
me fazia sentir que o calor do meu corpo
era antigo, tinha muito tempo.
Sonhei enquanto esfriava
e meu sangue ainda aquecia;
alguém me tocava
e assim eu percebia:
o calor era ativo,
gerava uma energia
impossível de medir,
localizar no tempo,
revelar
e agora chegava em seu limite.
Sonhei que percebia,
alguém roçava sua mão em meu rosto;
eu sentia o calor do outro corpo.
Tão antigo também
e próximo, receptivo
como a comunhão no ritual católico,
que sempre me pareceu dizer
entregam a ti o corpo de Cristo
na hóstia quente
porque antes tua boca estava acesa.
Sonhei, tive muitas percepções,
religiosas, mundanas, contemplativas.
Alguém me tocou,
antes do frio,
e eu também escutei,
frases fora de sentido:
- Está tudo queimado!
- Use estas lâmpadas Led!
do livro: AS SONDAS AMAM
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