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cronicas-->A Viagem -- 18/06/2007 - 18:49 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Caminhou, caminhou. Ele sob o sol duro do inverno, a pele com crateras, os lábios secos, rachados e finos, com a certeza dos passos leves. Caminhou, caminhou. Não que fizesse muita diferença agora, em tamanha luz agreste, em tamanha aridez; Não. Apenas circulava em seu perímetro, o dos sonhos, a polaridade de seu medo, a alucinação de sua presença. Ele próprio duvidava de si mesmo, ele mesmo se confundia com as sombras definitivas que o sol desenhava no horizonte, mas ele andava, como personagem de Wim Wenders, incansável. Bipolar, cheio de pontos cegos, num emaranhado de palavras soltas, em meio a um cipoal de eventuais tristezas.Caminhou o viajante, sem um destino fixo que não a atemporalidade, sem um ponto a visar que não o infinito, sem a perspectiva outra do andar sozinho nesse deserto.

O ar parado sufocava qualquer tentativa de movimento, numa mortalha alentecida, uma camisa de força invisível que oprimia o peito do viajante e  seu cavalo. Os caminhos se bifurcavam, numa esquina invisível, um improvável trevo perdido no tempo. Seu cavalo fitava um lado, ele o lado oposto. Nosso viajante vacilava, sua visão entrevia vultos que não existiam, pedras que seriam preciosas, lagos de sal e vinho.

Nada que fizesse teceria o fio da esperança, nada que pudesse pensar já não teria passado como um filme em sua retina cansada, um odre partido, seu crànio ressequido, seus olhos nas órbitas sem luz. Assim iam o cavaleiro e seu cavalo, perdidos num tempo congelado, findas primaveras antigas, verões esquecidos e o triste inverno do agora-já.

De noite, deitado e olhando as estrelas, ainda conseguiu fitar pasmo a Via Láctea que com suas circunvoluções, convida a alma de qualquer homem a caminhar nas profundezas do silêncio cósmico. Um silêncio que é o profundo da alma, um não dizer que já o diz todo, um aprofundar-se cavo, grave, oco, tomava forma diante dele e ele fechava os olhos.

Sonhou então o caminhante com a luz do etéreo e indizível, sonhou com os pássaros de luz que já não eram mais pássaros, a consistência do sonho se desvanecendo, ele próprio parte de si mesmo e das espirais luminosas que se abriam perfeitas, num movimento harmónico e silente.

Olhou pela última vez o seu cavalo.
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