Pra que partir?*
"Estou sentado sobre a minha mala no velho bergantim desmantelado... Quanto tempo, meu Deus, malbaratado em tanta inútil, misteriosa escala!
Joguei a minha bússola quebrada às águas fundas... E afinal, sem norte, como o velho Simbá de alma cansada, eu nada mais desejo, nem a morte...
Delícia de ficar deitado ao fundo do barco, a vos olhar, velas paradas! Se em toda parte é sempre o Fim do Mundo,
Pra que partir? Sempre se chega, enfim... Pra que seguir empós das alvoradas, se, por si mesmas, elas vêm a mim?"
* Mário Quintana, A Rua dos Cata-Ventos, in Poesias, p. 16, Editora Globo, Porto Alegre, 1972. Citado por Domingos Paschoal Cegalla, in Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, 35ª edição, São Paulo (SP), Companhia Editora Nacional, 1992, p. 550. |