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Cronicas-->Uma Expressão de Amor -- 13/01/2000 - 22:44 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
http://www.terravista.pt/FerNoronha/5843
vaniamdiniz@zaz.com.br

UMA EXPRESSÃO DE AMOR

O amor é o tema preferido de quase todas as pessoas. Mas, será realmente que estamos falando desse sentimento quando enumeramos coisas tão corriqueiras?
No caminho da minha vida vi várias cenas que não poderiam por em dúvida tratar-se do verdadeiro amor.
Há muitos anos atrás, quando ainda era uma adolescente presenciei uma doença cruel numa criança de três anos e meio.
Seu corpinho antes bem proporcionado inchou com uma doença do rim, naquela época geralmente incurável chamada nefrose.
Hoje, embora por vezes se consiga com dificuldade, existe o transplante. Mas pelo menos é uma esperança. E há anos atrás nem essa esperança existia.
Essa criança, pois estava praticamente condenada pelo tipo de mal raramente curável. Era linda, loura e inteligente. Seus olhos verdes e expressivos procuravam talvez uma explicação para o sofrimento. Não raro, esses mesmos olhos estavam rasos de lágrimas por diversos motivos óbvios.
Presenciei várias e dolorosas cenas pungentes que me cortavam o coração e eu quase uma criança, perguntava a razão de tamanho sofrimento em alguém, cuja vida era tão recente.
Muitas vezes, alta madrugada acordava com os gritos de dor desse menino querido e tampava os ouvidos com as mãos como se com esse gesto pudesse impedir a continuação do seu tormento.
Cláudio era tão precoce que mais de uma vez me perguntou a razão do que ele passava e dizia sempre que ia morrer. Achava-se feio com aquele corpo inchado e eu ficava desesperada porque não sabia o que responder.
Em muitas oportunidades em nossas conversas constantes e durante esses quase dois anos de sua moléstia, procurei mostrar que nada disso ocorria e que naturalmente ele ficaria logo bom. O garoto dizia não acreditar, embora sempre tenha demonstrado uma profunda confiança em mim.
Todos na família sofriam, mas como eu era sua irmã e éramos muito unidos, podia ouvi-lo com mais intimidade.
O que me torturava muitíssimo era a amargura de meus pais, principalmente de minha mãe.
Em diversas conversas, que ouvi entre ela e o médico da família, um dos que tratavam regularmente de Cláudio, pude constatar seu desesperado sofrimento e perguntava a Deus o que seria possível fazer. Foi a primeira vez que senti a angústia da impotência diante do inexorável. Iria voltar a senti-lo em algumas oportunidades e cada vez, com mais certeza de minha fragilidade.
Muitas vezes, durante aquele período, vi o quanto o amor de mãe é capaz de fazer e admirei a capacidade dessa mulher para o sofrimento.
Ela só não admitia a hipótese de sua morte, mesmo nos momentos mais dolorosos. Não aceitava e nisso era intransponível. Não compreendia a vida sem ele. Mas nenhum de nós compreendia.
Foi pouco antes de sua morte, num dia triste de julho, que ele me falou sobre o seu próprio corpo e disse que não queria que ninguém o visse. Perguntei-lhe porque e ele com a capacidade que só as crianças muito precoces podem ter, respondeu-me que tinha vergonha.
- Eu era bonito, não era? Perguntou-me Cláudio enquanto eu procurava fazer com que aquelas lágrimas que explodiam não fossem vistas por ele.
- Você é, disse eu.
- Não, eu não sou mais, estou muito diferente.
Olhava-o, querendo dar uma explicação e só via os enormes olhos verdes e profundos que eu amava tanto, envoltos em bolsas salientes.
Foi numa manhã de agosto, triste e fria que me sentando para tomar café, depois de uma noite insone em que Cláudio piorava cada vez mais, que eu senti pela primeira vez a grandiosidade do verdadeiro amor.
O médico havia prevenido a minha mãe que seria muito difícil o menino ultrapassar aquele coma de vários dias. Eu estava calada quando minha mãe me perguntou:
- Você viu como ele está?
- Sim, mamãe. Mas ele vai sair do coma, não é verdade?
- Não sei, minha filha. Mas escute. Se Deus levá-lo não seria um egoísmo meu não aceitar? Acredite, será egoísmo.
Olhei-a mortificada e muitos, muitos anos depois pude compreender que seu amor fazia com que ela aceitasse o que estivesse para vir e ainda procurava me preparar para um momento tão difícil.
No momento que entendi sua frase pude absorver a beleza do amor e do que ele é capaz em todos os momentos de nossa existência.
Ele se foi mansamente numa noite daquele mesmo mês ainda resguardado pelo coma que o fazia inconsciente e minha mãe na aflição tão dolorosa daquele momento, chorava e rezava para que pudesse entender no seu amor os desígnios de Deus.
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