Em meu peito senti um vazio do tamanho exato do amor que sinto...
É que a alma preparou a morada do amor e ele saiu e não veio. É que foram tomadas todas as medidas para que ele se acomodasse, e como é grande o amor que tenho, o vazio é enorme... Imenso... Eterno...
A voz que ecoa em meu peito é aterradora...
É que os sons maravilhosos das palavras que outrora ouvi, as risadas que acompanhei, os resfolegar das narinas que respiraram em meus ouvidos nas noites a sós, hoje são sons de medonhos fantasmas que zombam a todo instante que a lembrança teima em trazer a mim...
O rosto que agora vejo é assustador...
Acontece que o sorriso que vi, as pálpebras que beijei, e os lábios que roçavam meu rosto sussurrando ao meu ouvido, se torna a cada instante que passa, numa visão alterada pela lembrança distorcida de espelhos não sei, maquiada pelo medo que a todo instante assola meu coração...
Os braços que agora sinto são cadeias...
E fico preso nesse gelo pesado como correntes de âncoras que me amarram ao fundo desse enorme abismo... Não consigo respirar porque esse abraço assustador aperta meu coração e sufoca minha alma. Pois todas as vezes que o pensamento quer lembrar aquele, sou traído pela memória que quer lembrar esse...
A esperança que eu tinha está morta...
Ela enganou a mim dizendo que morreria antes de mim, mas a vejo nessa laje fria, de braços cruzados ao peito, vestida de mortalha, e o rosto impassível coberto com esse véu de luto... E lembrar que foi ela mesma quem me deu o vinho da embriagante alegria... E pensar que foi a mesma esperança que sussurrou ao meu ouvido as palavras do encanto do amor...
O telefone me apavora se não toca e assusta se toca...
Esperei uma eternidade que ele me trouxesse uma voz de alento, e quando tocou, eu corri e atendi pensando ouvir a voz que outrora ouvi e que me dissesse que a esperança estava apenas dormindo, e que o amor estava de volta, e que eu veria novamente seu rosto, e teria os seus braços em lugar dessas correntes ao meu redor... Mas era engano...
Então ergui o meu corpo e gritei com todas as forças dos meus pulmões, e tanto acordei a mim como a minha amada... Ela perguntou:
- Que foi querido?... Que é que você tem amado?...
- Tive um sonho horrível... – eu respondi.
Então ela me abraçou e disse:
- Descansa querido. O amor sempre vela por ti e dissipa teus pesadelos...