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Cronicas-->Becos de Barra do Piraí -- 29/05/2007 - 14:34 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Becos de Barra do Piraí

Todas as cidades têm reentràncias, travessas e becos com histórias mil. Na Vila Boa de Goiás, a poetisa Cora Coralina falou do seus encantos. Os grossos muros que desenham os becos são todos irregulares, tortuosos, descascados e em ameaça constante de uma queda eterna que nunca se realiza. Os velhos portões inúteis que os limitam, feitos em madeira grossa, possuem dobradiças pesadas que nunca se abrem -são guardiões inúteis de mistérios insondáveis. Há quem diga que os moradores desses quietos locais não morrem, ficam encantados e suas almas teimam em permanecer por ali quando os respectivos titulares se vão. Em Barra do Piraí, onde vivi boa parte da vida, há centenas de becos misteriosos, morei num deles por um longo tempo. A verdade é que eles me perseguem -ou serei eu que gosto dos becos? Ou serei eu que gosto dessas flores frágeis, as boninas humildes, que teimam em nascer nos monturos dos becos?
Ao longo da Rua da Estação, na Barra do Piraí, pode-se contar mais de uma dúzia de becos. Há o Beco dos Ferreira, o Beco dos Ventura, o Beco do Xerém, onde havia uma funerária clandestina, de cujas entranhas o negro "Veneno" volta e meia saía carregando, no alto da cabeça, gigantescas e temidas urnas funerárias, embrulhadas em folhas de jornal que mal disfarçavam o conteúdo e não enganavam a ninguém. O Veneno corria para levá-las com urgência a algum cliente muito necessitado. Havia também o Beco das Fofocas, onde morava o meu Tio Pedro, o do Pedro Nora, o da Professora Condessa (onde estudei dois anos preparando-me para o curso de "admissão ao ginásio"), o Beco da Casa Síria, o Beco da Estação e tantos outros.
Esses becos imundos ainda hoje lançam as suas águas sujas no rio Piraí, que por si só é uma nata negra de celulose a poluir o rio Paraíba do Sul dia e noite, sem que ninguém se dê conta ou reclame desse crime bárbaro. Ligando um beco ao outro ainda existem outros menores, micro-artérias, constituindo-se numa verdadeira "Rede de Purkinge", onde moram as lavadeiras, as domésticas, uma gente humilde que se orgulha de morar no "centro" da cidade. Quando escrevem cartas aos seus parentes de longe, colocam com orgulho aquele endereço nobre: "Avenida Presidente Vargas, Barra do Piraí, centro". Isso mesmo, os becos daquela cidade fluminense são chamados de "avenidas".
Por falar nisso, nunca me esqueço da minha professora, a dona Vanessa, que era gordinha e morava num beco que levava o seu nome. Ela botava a panela de feijão no fogo e saía circulando pela sala, orientando os alunos e peidando tudo o que tinha direito. Como a gente não ouvia nada, ou melhor, não conseguia ter certeza de nada, estabelecia-se a dúvida áudio-olfativa. Impossível saber de onde provinha o cheiro duvidoso e era nisso em que se firmava a certeza dela -no que louve-se a esperteza da mestra. Mas isto é outra história.
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