Tentando mudar meu escritório Pessoal e reorganiza-lo, enquanto abria caixas e rasgava papeis de um passado remoto encontrei um quadradinho de mais ou menos dez por dez Com a frase:
"Se amigos chegaram à mesa de Cristo, Judas escariotes também o fez:
A frase era ilustrada por um dedo em riste apontado para que a lesse. Papel este permanente na minha mesa durante meus últimos anos da ativa. A frase em outro formato, escrita a mão e bem mais discreta acompanhou-me por mais ou menos dezessete anos ela foi e voltou comigo para Alegrete.
A minha vida profissional foi marcada por algumas escritas graciosas, alguma quase se tornando lendas.
“Plantas todas elas, menos a que seu Manoel esta pedindo para levar ao Gabinete dele”.
Meu primeiro Gerente, Manoel Venâncio Dutra Rocha. Homem não só extremamente organizado, adaptando a sua vida, no tocante a organização a famosa frase de Julho Cezar: “Não basta ser honesto tem de parecer honesto”. Para ele não bastava ser organizado. Assim a cada vez que ele ia atender algum consumidor, ele ligava-me:
“Sérgio queira trazer ao meu gabinete a planta do Bairro Tal”. Planta nem sempre existente. Assim eu me quebrava em encontrar todas que pudessem aproximar-se do objetivo. Senhor de uma poderosa memória, causadora de uma série de aborrecimentos por sempre, em hora errada, trazer a tona coisas e fatos, objetos de desagradável recordação para todos, sempre me recordava de algum projeto envolvendo o local solicitado. Um dia cansado de em vão buscar, juntei todo o monte de plantas consultadas, empacotei-as e no pacote escrevi: “Plantas todas elas, menos a que seu Manoel esta Pedindo para levar ao Gabinete dele”.
Volvido o tempo, durante uma das minhas ausências por viagem ele foi pessoalmente a minha sala acompanhado do Chefe dos Serviços Técnicos, meu chefe, Waldemar Reichmamn, procurar uma planta. Reviram tudo o que foi gaveta até que notando o seu Manoel com o pacote informou.
Só pode estar ai, ele guarda tudo que é planta ai.
Recebendo a resposta
Aqui não está
Lá pela terceira vez a ser informado do mesmo e tendo a mesma resposta seu Manoel informou:
Como vai estar aqui se ele escreveu que não esta.
Fim de 1979, uma tarde enquanto meu chefe, Hertz Reys, estava ausente, recebi a visita do Pessoal do DEM, Departamento de Engenharia de Manutenção, Engenheiro Vilson Selvero, Engenheiro Luís Antônio Mousquier e Ernesto Eisemrach. Perguntaram por meu chefe e, se a seção dispunha de cabo de cobre, de certa bitola. Respondi que não, pois a seção de linhas só trabalha com alumínio Mas que havia a possibilidade do Dirceu, Dirceu Augusto dos Passos, Seção de Manutenção de Subestações, dispor. Por minha maldita voluntariedade eu os acompanhei até a oficina da subestação para verificar a sua existência, realmente encontrando o buscado. Acompanhei-os cortesmente até o carro.
Naquela época assumia oficiosamente a chefia da Subestação de Cruz Alta, o Chefe dos Serviços de Manutenção, Hertz Reyes, de quem eu era assistente, sendo delegado a mim solucionar todas as ocorrências dela. Uma noite o operador da subestação Nelson Ransen, ligou pedindo para eu ir urgente à subestação, pois ele tinha um problema.
Um dos cabos de entrada de um dos Transformadores encontrava-se encandecido, do borne até um meio metro acima, dava luz quase como uma fogueira. Quando vi aquilo, pela janela da sala de operações, gritei a ao operador:
Nelson tira fora já
Liguei imediatamente para Santo Ângelo informando a ocorrência, convocando logo a seguir dois eletricistas de Linhas, por solicitação do Dirceu. E aguarde a chegada do Pessoal de Santo Ângelo aonde vinha o Engenheiro Paulo Moraes.
Às sete e meia, depois de um pequeno sono quando cheguei ao serviço o Dirceu, ligou-me pedindo para verificar quando o Termovisor havia sido passado na subestação. Fui para a Sala de comando pesquisar quando tentei contato com o Dirceu, não o encontrei, já havia saído em direção a Cruz Alta, aonde chegou uma hora depois indo diretamente a minha sala, Não para me agradecer pelos esforços invitados naquela noite, mas sim por não ter transmitido, o Recado do Engenheiro Wilson, sobre o cabo que já naquela época apresentava ponto quente. Tentei afirmar o meu desconhecimento e não ter sido informado de nada por eles, recebendo do Dirceu a seca resposta:
“Reservo-me o direito de acreditar e desacreditar nos dois.”
Mas o mundo dá voltas. Uma semana depois me aparece o Engenheiro Paulo Moraes, pedindo dois eletricistas com escada de gancho, para trocarem outro cabo no mesmo transformador, pois o Luiz Antônio Mousquier Havia avisando-lhe desse outro. Nesse aviso ele deixou bem claro não terem deixado recado para mim transmitir ao Dirceu. Nesse dia, após ter ligado ao Dirceu agradecendo-lhe por não acreditar em mim. Passei a tarde tentando em vão ligar para o Eng. Vilson, sorte minha ele estava em reunião.
Ao outro dia antes que eu pudesse por o Hertz a par dos últimos acontecimentos ele me perguntou:
“Tu sabes quem vai ser o chefe dos Serviços de Manutenção de Linhas de Transmissão de Alegrete”? Acho que tu o conheces.
Isso me deu um nó na garganta, eu queria aquele serviço e agora quando estava tão pertinho me escapava das mãos. Em pensamentos ai para a rua, remoendo a minha magoa, quando ouvi Hertz continuando:
Ele se chama Sérgio Olímpio da Silva Viégas,
Isso fora decidido na reunião onde estava o Chefe do Departamento de Engenharia de Manutenção, Eng. Vilson Selvero, de quem dependeria a aprovação do nome indicado para uma chefia de serviço na Área.
No dia em que Dirceu me cobrou em coloquei sobre o vidro da minha mesa, desenhada a mão tal frase. Volvidos os anos quando eu já era chefe do Serviço De Manutenção dos sistemas de transmissão Cruz Alta pedi para alguém repassa-lo no computador, mais um constrangimento. A primeira pessoa a chegar a minha mesa, depois de colocado este bem mais chamativo, quem mais o azar poderia trazer? Marcos Antônio Piccoli, Meu chefe de departamento, posteriormente Superintendente e assistente de Diretor. |