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E ele me interpelou,
subitamente, por quanto tempo ainda
os meus cabelos cresceriam.
Era um camarada acintoso,
interessado nos meus fios
como se íntimo deles o fosse.
Pensei em questioná-lo:
- em quantos meses cresceriam
crespos e revoltados,
os pelos pubianos
da senhora sua mãe?
Os interessados em nossos fios,
se os deixamos soltos,
penetram-nos pelos folículos,
apossam-se das nossas entranhas,
atingem nossos pontos mais sombrios,
gélidos ou caniculares.
Daí, acirram-nos os nódulos tímidos,
sussuros ainda incompreendidos por nós mesmos,
e os irrigam com estranheza torpe.
Tomam o nosso ser como um macaco raro,
um inseto africano ainda não catalogado,
ambos perniciosos e incognoscíveis.
Não! Não quero ter entranhas sufocadas,
nem que invadam-me a alma unicamente minha.
Os meus recônditos, vetados aos curiosos,
cospem fogo aos bárbaros.
Permitem apenas lábios úmidos,
- e apenas aos autorizados!-
Contemplam também dedos hábeis e macios
que penetrem caverna escorregadia
sem sobressaltos,
e os que ousem tolerar longa noite constelada,
avançando mais, mais e mais...mais e mais...
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