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O meu amado tem um jeito de falar,
uma maneira de tocar a alma,
que me atinge recônditos desconhecidos.
Busco neles a razão primeira,
pesco uma lembrança aqui,
um labirinto ali,
e, ainda assim,
a origem de tanto querer bem
faz-se desconhecida.
Já pensei ser fruto de outros mares,
razões esotéricas, coordenadas celestes,
mas a intensidade do afeto prevalece.
O toque dele fala por si só,
minimiza argumentos,
encarnações passadas,
estudos bioquímicos.
O que existe é ele por si só
e nele aprendo, atenuo as feridas,
recolho os meus cacos e sorrio,
avanço na ilusão das conclusões tardias.
Não seria o que de melhor sou
se ele não me ponderasse,
expurgasse os meus demônios,
aplaudisse os meus arcanjos,
confiasse em mim.
Os braços fortes enlaçando o ser que sou,
me fazem crer na minha própria alma.
Procuro passos que persigam luzes,
rumos delicados, ainda claudicantes.
Ele é presente da vida, dos deuses, de mim mesma.
Sentimento que pensei, outrora, inexistente.
E o amor não passa: frente à antiga convicção,
vinte e três anos de contradição.
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