A ORGANIZAÇÃO COMO SAÍDA
Medeiros Braga
Alguém já disse que “a prática é o maior critério da verdade”. Tendo por base o que está acima posto, podemos afirmar com segurança que a organização é o fator mais importante para o bom desempenho de uma comunidade. As experiências têm nos mostrado essa realidade incontestável. Das comunidades que temos trabalhado ou que tomamos conhecimento das ações desenvolvidas, podemos constatar que as que apresentaram os melhores resultados na conquista de benefícios e na sua operacionalização foram, exatamente, aquelas que tinham um nível de organização melhor.
As comunidades mais organizadas dispõem de mais facilidade para se reunir, discutir problemas, propor solução, dar encaminhamento e efetiva-los. São elas formadas por pessoas que procuram exercer a sua cidadania; que não são vulneráveis às manipulações políticas. Ao contrário, as que não contam com um bom nível de organização, são elas acumuladoras de problemas, sem iniciativa e vulneráveis ao paternalismo. Se o pneu do trator está furado, se a bomba dágua apresentou problema e está parada, se falta energia elétrica, etc, essas comunidades ficam esperando que algum prefeito ou vereador vá lá resolver tais problemas. São umas comunidades sofredoras; por que não dizer coitadas, já que não têm criatividade, nem independência nas ações.
Daí, portanto, cabe aos setores mais organizados da sociedade, bem como, às instituições que têm uma visão mais avançada de avaliar os empreendimentos, darem todo apoio, sem interferência, ao processo de organização dessas comunidades. Até mesmo porque é uma forma de investir melhor cada real dos recursos públicos alocados. A organização, hoje, diante das dificuldades agigantadas pelo neoliberalismo e a decantada “globalização”, tornou-se imprescindível à sobrevivência das comunidades.
No entanto, para que uma comunidade atinja um bom nível de organização é necessário que os seus agentes tenham uma boa formação política; uma conscientização política calcada nos conhecimentos do mundo que o cerca; que mostre, entre outras coisas, que o trabalho, e somente o trabalho, é a fonte criadora de todas as riquezas; principalmente, em se tratando dos pequenos produtores rurais que produzem o alimento, sem o qual não sobreviveria o ser humano no planeta, mas, que sofrem eles as maiores dificuldades, injustiças e, porque não dizer, um verdadeiro massacre. Como pode o homem alcançar o empoderamento das reivindicações se ele desconhece o seu valor na produção de bens e serviços e, entre outros, na geração de impostos os mais diversos? Para eles, os contribuintes do país são os empresários. Muitos não sabem que na hora de pagar a barra de sabão comprada, está incluído ali o imposto devido e que, inclusive, por vezes, é sonegado pelo mau empresário.
Porém, uma boa organização não se consegue com o ajuntamento de pessoas em torno de um benefício ou ante uma insatisfação gerada por uma dificuldade. Uma boa organização só se realiza através da conscientização política do homem. Por que nas áreas de assentamento estão as comunidades mais bem organizadas? Simplesmente, porque são as mais politizadas. A luta pela terra condicionou reuniões, participação e discussão política, econômica e sindical, principalmente. Apoiados pela CPT, partidos de esquerda e lideranças sindicais comprometidas, os trabalhadores rurais adquiriram os conhecimentos necessários à sua organização. Seguramente, podemos afirmar que, sem esta, nada funciona bem em uma comunidade. E isso é válido para qualquer classe, pois, a verdade é que sem conscientização não haverá organização; e sem organização não haverá saída.
|
