CONFISSÃO DAS MINHAS MÃOS
Dedico especialmente estes versos
Aos que não se "recordando" de si
Persitem estafermos da humanidade.
* * *
As minhas mãos foram beijos,
Cabelos, rostos e lábios,
Foram corpos com desejos,
Chaves secretas de sábios...
Minhas mãos são astrolábios,
Lemes, velas, remos, quilhas,
Engelhados alfarrábios
No mundo das maravilhas...
Seios, nádegas, vaginas,
Ânus, línguas, ais em vão,
Gritos de excelso tesão,
Fadas, deusas peregrinas...
As minhas mãos, bruxas, sinas,
Rasgaram entre o silêncio
Noites de luar fulgêncio
E manhãs de sol divinas...
Foram asas columbinas,
Punhos de raiva assestados,
Sonho de "zé-dos-telhados",
Mas não foram assassinas...
Minhas mãos, adrenalinas,
Em fome e mais fome ainda,
Sequiosas, mais ferinas,
São partida após a vinda...
São abelhas em espasmo
Mesmo antes de chegar
E praza que a terminar
A morte seja um orgasmo !...
* * *
António Torre da Guia
Som = Celine Dion e Andrea Boccelli em "The Prayer"
|