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Contos-->LEONORA -- 04/05/2014 - 21:43 (GIVALDO ZEFERINO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Por vezes, o tempo me pega pelos cabelos, me transporta para um passado remoto e me faz reviver cenas que, algumas delas, eu quisera esquecer para sempre. Porém, mesmo esquecidas, aconteceram e transformaram muitas vidas. Eu me vejo jovem, fogoso, trepidante, repleto de energia, numa fase em que a gente desperta para a vida, faz besteiras, envolve-se em aventuras inconcebíveis ignorando as consequências, almejando o bom e o melhor.

Tudo teve início logo que conheci Leonora, uma garota que me fora apresentada por Maíra, amiga predileta e companheira inseparável, no colégio onde estudávamos. Na oportunidade, Leonora virou-se para mim e disse: oi! Da mesma forma respondi: oi!

Eu tinha dezessete anos, um a mais do que ela, entretanto sua sagacidade contribuía para que se tornasse bem mais amadurecida. Era uma garota espirituosa, cuja beleza lembrava aquelas princesas dos contos de fadas. Daí em diante, ela sempre inventava um motivo para ficar comigo. Maliciosamente me provocava e, sempre que se aproximava de mim, beliscava minha bochecha, eu corava quando isso acontecia porque despertava os meus instintos selvagens, enquanto ela mangava de mim, vendo minha reação. Ao contemplar seu corpo, seus peque-nos seios rígidos, eu fervia por dentro, disfarçava e depressa me despedia inventando qualquer desculpa. Ela me segurava, eu resistia e tentava me livrar daquele estado constrangedor que nos conduzia a um terreno bem mais perigoso.

Um dia, Leonora perguntou-me se eu tinha namorada, eu disse que não; ela falou: eu também não tenho namorado. Você quer namorar comigo? Foi assim que começamos a namorar. A gente namorava às escondidas; nossos pais não podiam saber disso, pois com certeza, não haveriam de aprovar o namoro.

Certa vez, minha mãe nos flagrou justamente quando Leonora espremia uma espinha no meu rosto e ficou tiririca com aquela intimidade entre nós dois. Repreendeu-nos com severidade, enxotou Leonora, chamando-a de assanhada, imoral e outros palavrórios, enquanto ela se arredava assustada sem ao menos se despedir. Em casa, minha mãe soltou os cachorros em cima de mim, falou tanta coisa, que me deixou atordoado com o seu interminável sermão. Meu pai, assim que chegou para o almoço, soube do ocorrido que mamãe lhe descreveu, ainda exaltada, enfatizando o detalhe principal. Papai que sempre foi um homem de poucas falas, abraçou-a, disse para ela não se preocupar porque essas coisas faziam parte dos excessos da juventude, que nada sério haveria de ocorrer só porque a moça havia espremido uma espinha em mim. Mais tarde, ele me chamou à parte e me advertiu para que eu tivesse cuidado, para não fazer besteira porque as meninas de minha idade eram muito assanhadas e blablablá, blablablá... Eu escutava o que ele dizia, porém meu pensamento estava muito distante dali. Depois dessa bronca, passamos mais de um mês sem nos ver.
Depois que Maíra desconfiou que algo rolava entre mim e Leonora, aos poucos começou a se distanciar de mim. Indaguei o motivo de sua indiferença e ela respondeu com expressão sombria: vá cuidar da sua amiguinha! Fiquei amargurado. Eu não queria perdê-la. Nossa amizade era sublime; tratava-se de um amor casto, fraterno, regulado por uma força sobrenatural. Eu me fartava de felicidade ao lado dela, porém não ousava, sequer imaginava invadir a intimidade de Maíra com atitudes impudicas. Até hoje não entendo o porquê.

Ao considerar sua reação, acho que ela se sentiu relegada vendo-me andar para cima e para baixo com Leonora. Eu não sabia como explicar-lhe o que estava acontecendo.

Na escola, quando Maíra me via baixava a vista. Conservava um olhar misterioso, ardente e reservado. Tu sabes mais do que eu como são as mulheres. É difícil saber se elas choram de alegria ou de tristeza, de mágoa ou de rancor. Somente elas sabem por que choram.

Extraído do livro Conversa com uma boneca de pano, publicado no Clube de autores)
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