“É o picolé, só cem”...!!
Como numa psicografia, num flash talvez, pela velocidade dos pensamentos em meu cérebro, buscando cenas doutros tempos, impolutos de inocência e magia!
Janela enorme de fazenda, tarde fresca, mesa cheia de livros, e aquele garoto descobrindo novos mundos.
Mas falta algo, o dia está incompleto... A tarde está incompleta e sem graça...
Ele sempre vem, nunca falta! Somente a chuva é capaz de persuadi-lo e tirar a sua cantoria da rua, tirando também o encanto das tardes de minha eternidade.
Hey, já consigo ouvi-lo.... Ouço os seus gritos que aumentam aos poucos... Lá vem ele!
- “É o picolé, só cem”...!!
- “É o picolé, só cem”...!!
Então respira, toma fôlego, se prepara... dispara novamente, e mais...!
Magrelo, calça curta, camiseta e chinelo arrastado.
Corpo arqueado, isopor branco, caixa de picolés...!!!
Fico hipnotizado por alguns instantes, observando aquele, também garoto, pontual das tardes da semana.
Desafinado, não importa, mas aquela sua canção, porque só pode ser uma canção, dava vida àquelas tarde de meninice.
E em minhas viagens, enquanto ouvia a sua música, queria saber mais sobre ele, o seu nome, se estudava, se brincava, se tinha irmãos, jogaria bola?
E ele caminhou, e um dia não mais voltou. Partiu sem saber que ainda está presente em mim...
Rimarquesz/18 |