Foi necessário conter-me em alegrias num ato de contrição, por receio de mal estar causar ao ambiente danificado. Usei as forças jagunças de minha natureza sertão e a intervenção mais sagrada da minha formação para comungar a dor da fome e sede na alma. Silenciosamente, observei a fúria do deserto à volta: corpos caquéticos e sedentos mostravam a aridez da paisagem pintada sob o comando do Pincel sem mão. Ele tinha vontade e vida próprias e deslizava na folha passos de ballet. O cavalete veio ao chão e a imagem escorreu por entre os grãos de areia perpetuando-se ao solo que suavemente foi ganhando cores com predomínio do verde viçoso. Alimento da alma faz germinar sementes lançadas há muito no deserto de almas vazias. O rúmen trabalha no gado ansioso por sede e fome saciar e ao final do dia, a folha ao chão levada ao vento, tenta ao chão novamente alcançar e ter de volta, a imagem que ganhou a liberdade. Liberdade contrita no silêncio natural da alegria surreal das cores e dores unidas numa folha de papel levado a outras paisagens para novas sementes germinar.