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Contos-->Sertões de grandes mistérios -- 06/03/2014 - 09:58 (Roosevelt Vieira Leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O sertão de grandes mistérios

A caatinga branda te recebe logo após Riachão do Dantas que ainda traz o sorriso do agreste. No alto do Povoado Saquinho, se avista um enorme vale cercado de serras por todos os lados; a Serra do Canine é a mais imponente entre elas. Mais a frente, o Rio Real serve de divisa natural entre Sergipe e o Estado da Bahia. Esses sertões de Campos do Rio Real produziu um tipo de brasileiro muito especial. O brasileiro da caatinga hipoxerófita. Um povo bonito, trabalhador, e cheio de histórias para contar. Em meio a uma mata espinhenta, terra de massapé duro no verão, e entijucado no inverno surge no portal do sertão sergipano o povo mais bonito da terra – O povo de Campos do Rio Real. Dizem os aracajuanos: “Quer conhecer mulher bonita?” “Vá a Tobias Barreto!”
Descendo a ladeira do Povoado Saquinho o visitante se deleita com a natureza viva do lugar. As garças dividem a cena com o gado que lentamente se movimenta pelas centenas de hectares de pastos até chegar à ponte do Rio Jabiberi. O carcará, ave da família das águias, risca o céu em busca de carniça ou algum animal de sua dieta. Dizem os antigos rezadores da região que uma pena de carcará arrancada dele ainda vivo pode ser de muita valia na reza contra o mal olhado. Parece que ela ativa a força dos silfos – os elementais do ar.
O carro de boi com seu som típico também aparece por essas terras de Campos, sobre ele vai o valente sertanejo tobiense em busca de seus sonhos. A cidade era apenas uma Vila a pouca mais de um século, hoje, Tobias Barreto é uma das cidades mais importantes de Sergipe. Nenhum político inteligente deixa de visita-la em época de eleição.
- Madureira!
- Deixa-me Amaral! O dia mal nasceu e você já está com meu nome na boca! Deixa-me em paz, mulher!
- Mas, Madureira, você num disse ontem que queria acordar cedo para ir a Tobias Barreto?
- Dona Maria do Amaral, me perdoe, mas, não aguento mais! Deixa-me em paz!
- Depois num diga que eu não chamei!
Eram dez da manhã quando Madureira saiu de seu quarto rumo ao banheiro para um banho frio e demorado. O homem gostava de cantar ao banho – esse era um costume dos ‘madureiras’. Seu avô Pedro Madureira, e seu pai José Madureira faziam o mesmo, diz o povo.
- Amaral onde está a chave do carro?
- Você, quando chegou ontem a deixou sobre a mesa da cozinha. Se não tiver lá, deve estar na peça da sala. Você num vai comer nada não?
- Mulher, eu como no caminho, quero chegar a Tobias antes do meio dia.
- Então você vai virar uma bala, pois, já são quase onze horas.
- Tudo isso? Por que você não me acordou mais cedo?
- Madureira! Eu te chamei! Sabe de uma coisa? Vá em paz!

Madureira deixou Aracaju em paz e foi para o sertão de Campos do Rio Real onde ele se encontraria com lideranças políticas que apoiariam seu candidato para deputado estadual, o famoso Augusto Souza, com ‘z’, é claro. Madureira era cabo eleitoral de uma aliança política que crescia assustadoramente no centro sul do estado de Sergipe. Mas, em Tobias, o aracajuano não tinha muita fé, pois, as lideranças políticas da região estavam em conflito há décadas, por essa causa, Campos não elegia nenhum deputado.
- Vocês não conseguem eleger ninguém, então pessoal, por que não votar em Augusto Souza?
- Nós só gostamos de votar em gente que não é daqui. Severino coçou o dedo indicador e polegar ao dizer ‘gente que não é daqui’.
- Mas, vocês não se unem para que um nome ganhe força. A culpa é de vocês e não do povo. O traçado político está muito medíocre, vocês não acham? O Vereador Severino, proprietário do maior curral da região, cuspiu no chão de massapê em frente à praça principal de seu feudo.
- Assim num dá! O amigo vem de longe pedir voto para seu candidato e ofende a gente! Eu num dou apoio não! O desapoio de Severino deixou Madureira numa situação muito delicada, pois, sem Severino, político nenhum ganha em Tobias.
- Seu Madureira! Se Severino não der o apoio, o amigo num tem voto em Campos não! Essas palavras levaram Madureira de volta para sede do município de cabeça baixa.

O sol causticante da terra deu uma trégua para o que seria uma rápida chuva de verão. Quando Madureira avista Tobias, do alto da boiadeira, a cidade estava debaixo d’água. As nuvens cinza chumbo cobriam o céu formando um estranho e aterrador círculo escuro. O radio do carro parou de funcionar, o celular saiu de área, e por fim, o carro parou no meio do nada. Ninguém vinha ninguém e ia. “Mas, o que é isso?” Madureira sai de seu carro, olha para o céu sobre sua cabeça, e vê luzes como se fossem raios, mas, não havia trovões. “Onde estão os trovões?” Perguntou a si mesmo o cabo eleitoral de seu Augusto Souza – “o deputado do povo”. O homem voltou para dentro de veiculo, tentou a partida e nada. “Será gasolina?” Pensou o moço tentando acender as luzes do painel. Mas tudo foi em vão. No céu, parecia que um tornado de alta potencia desceria sobre ele a qualquer momento. Na rodovia, uma alma se quer aparecia a milhas de distancia. “O jeito é esperar”. Madureira se sentou em seu carro e esperou acontecer alguma coisa. Contudo, nada acontecia. Nem chuva, nem tornado, nada.

A tarde caminhava para o seu crepúsculo. O céu escuro por causa das nuvens encobria a beleza do crepúsculo sertanejo de Tobias Barreto. Madureira, em seu carro, nada podia fazer, exceto, esperar. O homem esperou o anoitecer, e ele veio e com ele o medo de maníacos e assaltantes. Madureira decide ir para residência mais próxima. Uma luz de candeeiro ao longe indicava que era aquela a residência mais próxima. Passou a cerca, caminhou pelo pasto e chegou ao local. Este era uma casa quatro águas com duas janelas de cada lado. A casa estava vazia. Seus moradores não deixaram recado, no entanto, no fogão a gás havia uma panela de feijão com carne borbulhando. Madureira correu, desligou o fogo, acendeu umas velas que estavam sobre uma pequena mesa, e procurou pela casa uma evidência de alguma coisa – um indicativo que lhe desse uma luz sobre o que estava acontecendo. “Por que aquelas pessoas saíram justamente na hora da comida? Faz pouco tempo que eles saíram!” Essa pergunta de Madureira, no momento, não tinha resposta.
Madureira comeu o feijão com carne, cuscuz de milho e café quente. O homem encheu a barriga como não fazia há muito tempo. Todos aqueles dias de campanha havia provocado uma total bagunça nos hábitos do homem; ele não tinha tempo para nada, exceto, cuidar dos votos de seu candidato. Ademais, no dia em que ele recebeu essa incumbência ele afirmou amiúde diante de todos que faria o possível e o impossível para atingir a meta estabelecida. Um som grave é ouvido sobre a casa quatro águas. Parecia alguém arrastando um baú muito pesado. “Mas, quem está aí?” gritou o cabo eleitoral. “Olhe eu estou aqui, mas, foi por força da necessidade!” “O que está acontecendo?” “Faz horas que não passa um carro na pista!” Ninguém respondia ao pobre caçador de votos.

Mas, foi durante a alta madrugada, adormecido na cama de casal, da casa de roça que Madureira se deparou com o mistério que ele levou para o túmulo. Um disco voador era a causa de tudo. O disco estava estacionado sobre a casa como esteve sobre seu carro. As luzes que saíam dele eram como raios, contudo, sem som. O objeto não fazia barulho, no entanto, naquele momento, o som que vinha dele era muito desagradável; era como se alguém arrastasse um baú muito pesado sobre uma superfície de madeira. Uma luz vinda do orifício inferior da nave estranha incide sobre a casa e sobre o homem. Madureira sentiu um calor muito forte, depois desmaiou, e acordou no interior do veículo.

O disco tinha um diâmetro de120 metros, sua área, então, era muito grande. O seu interior possuía algumas pequenas salas como se fossem ambulatórios médicos. Ele foi levado para a que tinha a cor laranja. Um ET feminino se aproxima do homem e diz: “Não se preocupe, não vai doer, nem você vai se lembrar de nada”. A moça de estatura pequena, aparência humana, muito parecida com orientais, segurava um aparelho que era introduzido no bulbo encefálico da pessoa e seguia para o encéfalo conectando-se na glândula pineal. Ao ver o aparelho, mesmo em estado de sonolência, Madureira tenta sair da maca, mas, suas forças não vieram socorrê-lo. Madureira jamais soube a quantidade de tempo que dormiu, mas, quando acordou estava em outro quarto, desta feita, muito parecido com o seu em sua casa em Aracaju. A nave passou um tempo na órbita da terra; Madureira entendeu, então, que os seres extraterrestres estavam estudando o planeta. “Mas, o que?” “Qual o propósito?” Por muito tempo assessorando políticos, Madureira jamais pensou em falar sobre essas coisas em seus discursos, agora, ele via que havia outras necessidades para a humanidade se preocupar, pois, se seres estão vindo de outros mundos estudar este planeta é por que, ou ele deve ser muito especial, ou está com problemas. A nave decide seguir curso para o espaço infinito. A mulher alienígena com aparência de oriental, mentalmente, lhe manda entrar em um tubo de cor azul, do tamanho de um homem, feito com um material que ele nunca tinha visto na terra. Dentro do tubo, ele inalou oxigênio e um sonífero, pois, a viagem seria em uma velocidade que o ser humano não suportaria. A nave entra no hiperespaço rumo à constelação de Orion. As três Marias, tão conhecidas, no sertão fazem parte dessa constelação, a nave ia para o Planeta Zit que orbitava o sol de Nous. Este é um sol muito parecido com o nosso, e possuidor do mesmo magnetismo. A atmosfera de Zit se assemelhava muito a da terra, a única diferença era que as estações do ano eram tão precisas que parecia que tudo era uma coisa só. O diâmetro do planeta era menor que o da terra, os dias do planeta eram mais curtos que os nossos, e os anos bem maiores. Sua gravidade permitia que as pessoas não fizessem muita força para se moverem em sua superfície. A nave pousou suavemente em uma área militar. A moça com aparência oriental acompanha nosso viajante do espaço para seus aposentos. Madureira ficou hospedado num prédio militar em algum lugar do planeta Zit.

Os dias e noites no planeta Zit foram de muita aprendizagem, a moça oriental conduziu o novo hospede para o processo de socialização. Telepaticamente ela dizia para Madureira que ele encontraria outras pessoas da terra e de outros planetas também.
- Não se preocupe morador do mundo azul. Você encontrará conterrâneos seu em nosso curso de socialização.
- Mas, sua pessoa poderia me dizer de que se trata tudo isso?
- Vista seu uniforme, pois, sem ele você não terá peso para andar no planeta.
- Moça, eu fiz uma pergunta que tal você me responder?
- Vista o uniforme e ponha o capacete de cor preta, pois, este tem o programa de tradução multilinguística. Temos pessoas de muitos lugares do espaço. A moça acompanhou Madureira até a sala de socialização. Ao se expor a atmosfera do planeta, Madureira sentiu náuseas, seu corpo era puxado para cima sendo preso ao chão por uma força magnética que vinha do uniforme que ele usava. A moça com feições orientais dizia para ele “Calma, já, já você se adapta”. Antes de entrar em um prédio de vidro escuro onde seria a reunião, Madureira já havia se adaptado à atmosfera. A moça o deixa na porta recomendando-o que fale somente a verdade. A sala era redonda com filas de cadeiras postas de forma circular no sentido ascendente. A sala parecia um teatro romano, no entanto, em vez de gladiadores e plateia, estavam ali, seres das mais diversas localidades do cosmo. Madureira procurou sentar ao lado dos abduzidos da terra, entre eles, estava o tal Severino de Tobias Barreto.
- Rapaz, o que sua pessoa faz aqui?
- Sei não. Eu fui para Brasília, ali perto do povoado, você conhece o Povoado Brasília?
- Não. Disse Madureira a Severino.
- Então, eu estava na estrada quando o céu escureceu; as nuvens estavam negras que parecia que era uma tempestade; nada funcionava, carro, celular, etc., e eu dormi e acordei aqui.
- É. Foi o que aconteceu comigo. Eu estava na estrada quando tudo parou de funcionar, aí, com medo, caminhei para uma casa, e lá, eu sumi e estou aqui.
- Sim, e o que a gente pode fazer para ter alguma informação sobre esse lugar misterioso?
- Tem uma moça oriental que me acompanha, e você quem anda com você?
- Uma moça oriental. Os dois olharam para fora do prédio pelo vidro escuro e viram que todas as pessoas do planeta tinham uma aparência oriental, somente dentro da sala onde eles estavam é que havia seres de formas e aparências variadas. Um cidadão com a aparência de um sapo cururu toma a palavra e abre a reunião. Seu idioma parecia incompreensível, mas, com a ajuda dos capacetes Madureira e Severino entendiam o que estava sendo dito.

“Todos os moradores da Via Lactea sejam benvindos a comunidade de Orion sediada no planeta Zit; está aberta a reunião Intersistêmica bianual para assuntos planetários e morais”. Quando o sapo extraterrestre disse morais, Severino deu uma risada, o que foi imediatamente repreendida, o mesmo levou um choque de 70volts. Severino se ajeitou no assento e o sapo lhe dirigiu a palavra no vernáculo.
- Quem sua pessoa pensa que é? Suas moléculas de carbono podem ser facilmente desintegradas pela força de sua moralidade.
- Olhe seu sapo, eu nem sei por que estou aqui. Severino se pôs em pé e disse: “Pago bem para alguém me dizer que diabo é isso, porra!” Houve um tumulto na sala; o presidente da reunião chamou a segurança para restabelecer a paz.
- O amigo ainda não entendeu que está a milhares de quilômetros de distância do ambiente onde suas praticas macabras são realizadas? Aqui é Zit, é a constelação de Orion, um mundo muito maior que o seu mundinho. Disse o sapo de forma áspera.
- Com todo respeito seu sapo, mas, eu não entendo nada aqui. Na verdade eu quero ir para casa.
- Primeiro, nós anfíbios estamos na frente de vossa linha evolutiva. Todos vocês terráqueos já foram sapo um dia. Por isso, muito respeito, por favor! Segundo, a nossa reunião é muito séria, a galáxia está ameaça por uma instabilidade nos sistemas, e isso pode destruir o vosso planetinha. Convidamos os melhores gênios da terra para discutirmos o assunto, e você é um deles. Severino deu uma rizada e disse: “Mas, seu sapo, no nosso tempo, Tobias não tinha escola, eu fiz até a terceira séria com dona Raimunda e só”. Quando Severino disse de sua escolaridade houve uma agitação no plenário. O presidente da reunião mandou trazer a tripulação da nave enviada à terra para prestar esclarecimentos. O piloto chefe da nave HZTX1 foi trazido por militares à reunião. O presidente Doutor sapo pede esclarecimentos. O piloto, então, toma a palavra:

“Passamos quatro meses gravando as formas mentais de pessoas cuja origem remonta as mais diversas castas de seres humanos extraída de toda a história, e percebemos que os políticos e os ligados a eles tem uma constituição mental muito mais adiantada que a média; vimos, então, que para disseminar na terra as novas ideias desse plenário tão ilustre esse tipo esquisito de terráqueo é o mais indicado”. Após terminar sua fala, o piloto passou para as provas empíricas. Ele abriu um holograma que tinha a memória de Severino - O senhor de Campos. Nela estava o registro de todas as campanhas que o homem participara e as estratégias usadas para prender as pessoas ao seu feudo. Quando o plenário viu as obras do ilustre político tobiense o povo se agitou novamente. Um extraterrestre com traços filipinos, natural do Planeta Cum se irou e disse:
- Isso é um absurdo! Esse homem prendeu as pessoas com falsas esperanças por mais de três décadas e nada mudou em seu mundo. Recuso-me a estar no mesmo lugar que esse indivíduo. A agitação continuou parando apenas quando sapo abriu a boca e estendeu a língua tirando o ET revoltado da reunião. Houve uma pausa, um silêncio fúnebre acercou-se da sala. Um ET que falava como se fosse uma cigarra tomou a palavra para falar. Severino cutucou seu amigo Madureira e disse silenciosamente: “Rapaz, aqui, até cigarra tem vez”.

“Meus caros amigos de Orion e de outros sistemas. Estivemos na terra muitas vezes. Acompanhamos sua evolução durante as eras geológicas, podemos afirmar que, em se tratando de formar opinião e manipular a mente humana, o terráqueo político só perde para os atores de cinema. Por que não trouxeram esses também? Pois muito bem, eu acredito que esses dois possam contribuir com nossos estudos. Vamos analisar o input encefálico deles”. Um raio saiu de um globo que desceu do teto sem fio, a coisa flutuava na sala. O primeiro foi Severino, depois foi Madureira que teve sua pressão alterada quando viu sua conduta na campanha passada. “Foi só trezentos contos”. Dizia ele consigo mesmo. O que mais chamou atenção do conselho intergaláctico foi a habilidade de convencer as pessoas. Tanto Madureira como Severino construíram diversos cérebros e mentes. Fizeram gerações pensarem que a seca era coisa de Deus ou de Santo. A comissão para assuntos de mídia intergaláctica avaliou que se eles conseguiram tamanha façanha com a tecnologia da terra quanto mais com a física quântica e a filosofia do Setenário Cósmico. O Setenário Cósmico é um conjunto de sete energias cósmicas que emanam a luz do centro do universo; isso para a ciência de Zit é posto apenas para representar uma referencia no universo, pois, a suprema força transcende o tempo e o espaço. Em Zit Deus é representado pelo signo de um círculo com um ponto no meio da circunferência. A língua Zitaniana não tem alfabeto, em vez de palavras, hieróglifos. O símbolo mais importante em Zit é o símbolo formado por uma seta com a ponta para cima, e na outra extremidade a seta dobra para a esquerda formando um triangulo como se fosse o número quadro deitado. A outra linha do triangulo ao cruzar a seta novamente para a esquerda formando um triangulo inacabado, digamos assim. Ela aponta para Saturno, o planeta que deu origem a civilização de Zit há milhares de anos. A comissão decidiu educar Severino e Madureira em toda a ciência de Zit. Os dois, então, fizeram um curso em estado de inconsciência enquanto os inputs iam sendo realizados. Após algumas horas, os dois estavam prontos para um estágio em uma comunidade de Zit, uma pequena cidade próxima ao monte Hurt.

O crepúsculo Lilás de Zit fascinou os dois terráqueos. A nave ficou suspensa enquanto os dois homens desciam em um jato de luz. Eles foram deixados numa plantação de um cereal que muito se assemelhava ao arroz, a diferença estava na casca que era mais grossa e dura. Severino, que sempre teve medo do ermo, perguntou ao seu amigo assustado.
- Rapaz, onde estamos?
- Mas, Severino rapaz, tu estás com medo macho?
- Num é medo não. Eu estou é assustado. Você faz alguma ideia que lugar é esse?
- Nós não estamos na terra homem! Como é que eu vou saber? Eu sempre fui péssimo em geografia. Ah, mas, para ser político não precisa estudar mesmo.
- Epa! Pera lá! Assim sua pessoa está me ofendendo!
- Que direção!
- Ah! Essa aqui! Os dois terráqueos foram, sem rumo, até que por sorte, encontrarem a cidade de Hurt. Ali as pessoas choravam muito. Em Hurt o choro era cultura. Se você não chorasse pelo menos sete vezes por dia, você não era um bom homem. Os religiosos e éticos da terra acreditavam que o líquido ocular por ser rico em cloreto de sódio, limpava a alma e dava paz ao coração. Quando Severino e Madureira entraram na pequena Hurt a comoção era grande. Os homens foram recebidos por homens, mulheres, crianças e idosos, todos em pranto, isso para eles, era sinal de boas vindas.

O prefeito da pequena cidade Zitaniana convidou os visitantes do outro mundo para uma cerimônia que seria realizada no salão oval, este era o principal lugar de Hurt. A sala oval tinha uma biblioteca virtual intergaláctica atualizada. Todos os títulos podiam ser vistos em hologramas ou em outras tecnologias. O ancião da sala oval concedeu a palavra ao prefeito de Hurt, este era um homem que respondia pelo nome de Lúceres:

“Meus caros cidadãos de Hurt, é com muitas lágrimas que chorosamente apresento (pausa – uma comoção muito forte tomou conta da sala) os visitantes da terra (Pausa, o senhor prefeito tomou o lenço para chorar, contudo, sua lente de contato ficou presa ao lenço e ele não podia mais ler o discurso), sim, hum, hum, como eu ia dizendo, os visitantes de Marte” Ao ouvi a palavra Marte Severino teve um acesso de riso incontrolável, e isso em Hurt era estritamente proibido. A sala calou. Madureira fala ao ouvido de seu companheiro: “Rapaz tu é doido?” Você num viu ali na frente escrito na língua deles que era proibido rir?” Severino ficou a pensar, por um instante, como foi que Madureira tinha conseguido ler aqueles garranchos. Os dois foram encaminhados a uma sala reservada para esclarecimentos. “Nós não vamos penaliza-los, mas, como vocês são imputados, já deveriam ler e escrever na língua de milhões de civilizações”. Disse o Ancião da sala oval.
O amanhecer de Hurt era igual ao da terra, mas, às dez horas da manhã, o Sol tomava a coloração azulada, os raios solares pareciam lasers odontológicos. Madureira e seu amigo iniciam seu trabalho de convencer as pessoas a pararem de chorar sem necessidade fisiológica. “Mas como você sabe Madureira que o nosso estágio é esse?” “Rapaz, o que houve com seu input?” Perguntou Madureira ao colega Severino. “Sei não” Parecia que o input do dono do maior feudo político de Tobias não estava funcionando. Os dois começaram o trabalho door-to-door. Eles andaram visitando as pessoas tentando fazê-la mudar o hábito cultural do choro:
- Bom dia senhora!
- (Chroro) Bom dia amigo da terra!
- Por que você chora assim?
- Como?
- Assim, chora sem ter tristeza?
- Meu filho o choro é muito bom. Limpa nossa alma.
- Mas, não é isso uma coisa exagerada não? Disse Madureira com jeito. Severino entra na conversa e tenta convencer a pessoa com seus truques terráqueos.
- Você sabia que em toda a galáxia as pessoas que choram são discriminadas? A moda agora é o riso. A senhora hurtaniana coça uma parte de sua cabeça que parecia um queixo e diz:
- Mas, aqui é diferente! O moço num tente me persuadir a mudar nossa lei!
- Olha moça, todas as pessoas bem sucedidas deixaram o choro e foram à luta. A mulher hurtaniana, então, com olhar de curiosidade perguntou a Severino:
- O que é ir à luta.
- É crescer mulher! Ser diferente, chique, e não como os demais! Ademais, existe muita gente pagando uma boa quantia pelo riso. A mulher hurtaniana, dessa vez, arregala os olhos e pergunta:
- O que é uma boa quantia?
- É dinheiro mulher, grana, cobre, mufufa! A mulher sem entender procurava uma referencia em sua cultura para aquilo. Depois de alguns segundos com os olhos fechados ela diz:
- O amigo da terra veio para nos ajudar a ter crédito, pois, aqui, não usamos dinheiro. Nossa moeda é o crédito. Quanto mais crédito, mais condições.
- É isso! Eu estou pronto para criar uma cooperativa de riso onde todos que tiverem um bom sorriso juntarão crédito para terem mais conforto. A mulher deu um sorriso encobrindo o rosto e disse:
- Rapazes eu tive uma ideia. Seremos sócios. Em pouco tempo as pessoas apareciam rindo nas ruas. Muita gente hurtaniana protestou contra a quebra da moral, mas, quando viram que o crédito estava circulando se calaram. Muitas famílias que não tinham crédito para seus prótons, o que era muito importante tanto para a economia domestica de Hurt, como para suas naves que o povo precisava para seu lazer e, ou para o trabalho como fretistas do espaço, se juntaram à cooperativa. Estava feito, Severino se tornou, em pouco tempo, em um forte político de Hurt. Madureira o assessorava como podia.

A Ouvidoria Intergaláctica soube do feito em Hurt e conhecia seus autores. Os dois foram processados por crime contra a economia publica, e por causa disso os agregados a cooperativa protestaram:

O Ouvidor Mor Senhor Nod, Grão Mestre da Loja Branca do Disco Solar lê o relatório do conselho:
“Hoje, sob a inspiração do sol, concluímos o relatório que nos foi confiado. Os terráqueos: Senhor Severino e o Senhor Madureira são condenados pelo crime de enriquecimento ilícito e crime de manipulação da opinião publica em favor próprio. Nossos agentes também descobriram, e com provas, que eles possuem juntos mais crédito de que toda a pequena Hurt, o que é um absurdo!” O advogado de defesa dos réus recebeu a palavra:

“Digníssimo Conselho Cósmico Astral, é com muito pesar que tenho de discordar de vossos argumentos contra a moral de meus clientes, pois, os dois foram de grande valia para as mudanças na Vila de Hurt, o que se espalha por todo o planeta Zit. Agora, depois da era ‘riso’, o crédito foi democratizado, o que era barganha de poucos, diga-se de passagem. Meus clientes não são culpados de nada que o povo não queira. Quanto ao aumento do crédito pessoal, meus clientes possuem uma declaração que será enviada a Receita Planetária; isso comprovará que tudo é calúnia. São denúncias infundadas”.

O povo de Hurt não chorava mais, exceto, quanto sentia alguma dor ou um fato triste ocorria em suas vidas. O populacho sorria e gritava alto o nome dos dois terráqueos. Com isso, a policia foi acionada prendendo a Severino e Madureira. A população acompanhou a nave policial até o hangar 190. Havia no céu de Hurt uma multidão de naves que faziam piruetas de todo tipo para homenagearem e prestar solidariedade aos dois terráqueos. A mídia, então soube do fato.

“O Jornal, que também era gravadora, e editora, e radio, e tevê, “O espaço é de todos”, reuniu-se para traçar as coordenadas da cobertura do caso que eles batizaram de ‘Aculturação’ terráquea em Hurt”.

- Meninas, meninas, venham para a reunião agora! Falou pelo teleson digital um ser extraterrestre com a aparência de um pavão terráqueo. Do outro lado da linha, estava dona Chipping - a ancora do programa de maior audiência.
- Certo, meu plumado lindo! Estaremos aí em um segundo. De fato, o teletransporte as pôs na sala em trinta segundos.
- Olha gente, não fazem mais tecnologia boa em Zit. Vejam esse teletransporte demorou trinta segundos para trazê-las aqui! Além do mais, quando eu cheguei, hoje cedo, percebi que umas penas minhas não foram rematerializadas nesse tele! Poxa, que atraso! Bem, vamos ao que interessa! Nossa linha editorial deve ser a que segue as orientações centrais. Sabe; nós precisamos do poder. Mídia sem o poder não dá bem!
- Mas..
- Cala-te! Não terminei ainda. Então vamos tentar mudar a mente das pessoas para que elas sejam sempre choronas. O choro já deu muito dinheiro e audiência. Sem o choro, nossa classe política não sobrevive.
- Mas...
- Eu num já mandei calar? Então, mulher? Ave Chipping! Você é muito idealista, eu li seus pensamentos. O nosso jornal só vai falar mal dos dois e pronto! Cá entre nós, o tal Severino é muito espertinho, vocês não acham? E o tal Madureira faz uma cobertura sensacional, há, há, há! A reunião terminou. Um grupo de camaramen, editores, jornalistas e a ancora do jornal televisivo foram designados para cobrir o caso.

Na cela 288, estavam os dois sergipanos. Severino deu uma crise de caganeira, e Madureira de prisão de ventre. Severino ficou muito abalado com o ocorrido. Por isso ficava sempre repetindo como se falasse com as pessoas: “Isso é uma calúnia, um homem honesto como eu!” Com o tempo Madureira passou a ter pena do companheiro.
- Rapaz a gente está errado. Nós passamos a perna em todo mundo.
- Larga de ser besta rapaz! Quantas pessoas pararam de chorar? Quantas pessoas estão com o riso no canto da boca? A coisa funciona assim – toma lá, dá cá. É desde os primórdios do Brasil. Os portugueses não tinham dinheiro para investir nas colônias, então, eles inventaram as sesmarias e as capitanias. E estas inventaram a gente.
- Oh, filho da peste! Você não viu ainda que não estamos mais na terra? Severino, deixa- me ver o seu input! Madureira olha a região do bulbo, neste havia uma placa com três entradas, todas piscavam suas luzes. “Eu não entendo” disse Madureira a si mesmo.

A imprensa chegou à cela 288. Os dois sergipanos estavam adormecidos. O input implantado em seus encéfalos regulava a serotonina, por isso, o sono é bastante regular, a cada 6 horas ele tinha que dormir, senão, seus cérebros sofriam convulsões. Chipping viu que os dois dormiam, a repórter se aproveitou da cena para fazer uma tomada com os dois naquela situação.
“Estamos na cela 288 onde ficam aqueles que formam quadrilha. Aqui estão os dois terráqueos que deram o calote na economia popular de Hurt. Fontes fidedignas informam que eles são elementos perigosos e suas vidas passadas na terra comprovam suas ações aqui em Zit. Dormem, gastam a verba pública, que afinal, para sustenta-los aqui, temos que gastar muitos prótons. Vamos tentar acorda-los”. A jornalista tocou uma buzina que tinha o poder superior a 140db. Severino se senta em sua cama, tira a chapa dentária de um copo com água, a põe na boca, e vai ao banheiro. O barulho provocado pela saída das fezes do reto do tobiense deixou quase todos surdos. Um ET não suportou a cena e o cheiro de entranhas podre e deu uma gargalhada. Todos olharam para o rapaz que era apenas um entregador de prótons ionizados muito usados nas discotecas astrais. Contudo, Severino voltou a dormir e não ouviu ou viu ninguém. Madureira dormia como um anjo, de vez em quando, ele dizia resmungando: “Amaral onde está a chave do carro?” A mídia fez de tudo para entrevistá-los naquele momento, mas, o sono deles devia ser respeitado. Exibiu-se em rede planetária o sono dos dois marginais da terra: “TERRÁQUEOS SÃO BEM TRATADOS EM PRISÃO DE ZIT” Todos que assistiram a reportagem caíam na gargalhada quando Severino evacua seu ventre cansado de tanta carne de bode da Capitoa. O bode da Capitoa só perde para as moças que são as mais bonitas do mundo. A mídia, então, sem querer, fazia as pessoas rirem e isso fazia o povo amar mais a Severino e a Madureira. Uma grande multidão estava do lado de fora da prisão, em vez de choro e orações as pessoas riam e se divertiam com seus ídolos na cadeia. Isso mexeu com o poder central que prontamente enviou a ordem de extermínio das duas infames criaturas da terra.

- Severino, levante tem uma mulher aí. Parece que ela quer falar com a gente. Disse Madureira ao seu amigo. Na verdade, a moça era a ET com rosto oriental que abduziu os dois.
- Como? Sei; Quanto, mesmo?
- Não é nada disso rapaz. A moça mentalmente passa o mapa do hangar ao lado para a mente de Madureira e põe um objeto luminoso no chão. Este parecia uma chave.

Os ETs dormem muito pouco, mas, nunca deixam de dormir. Às onze horas da noite Madureira e Severino abrem a cela com o objeto misterioso e seguem para o hangar onde havia uma nave. Ninguém os viu, pois, em Zit, o sono é coisa muito séria. A nave levanta voo em velocidade terrestre, faz uma volta em torno da orbita de Zit e entra no hiperespaço. Nenhum dos dois sabia explicar como eles sabiam controlar aquele aparelho tão sofisticado. Depois de sete horas em dobradas quânticas no hiperespaço, os dois sergipanos avistam o planeta azul. A nave faz uma volta na orbita terrestre, e, em seguida, os dois são descidos da nave em um jato de luz. Severino acorda em seu carro a caminho da Capitoa. Madureira acorda na cama na casa de roça na estrada que vai para Tobias Barreto. “Rapaz eu dormir que perdi o tempo”. Madureira olha para seu relógio; eram sete horas da noite. “Puxa, devo ter dormido umas duas horas”. Madureira volta para o carro, liga o motor, depois o radio e segue calmamente rumo a Tobias. Na sua cabeça não havia outra coisa, exceto, o fora que recebera de Severino que lhe negou apoio para o seu candidato Augusto Souza, com ‘z’, é claro.
Na manhã do outro dia na sala do sindicato dos ruralistas, encanadores, eletricistas e o diabo a quatro, haveria uma reunião para decidir se Tobias Barreto teria candidato próprio a deputado. Madureira foi à reunião. Deram-lhe a palavra por volta das onze e meia. Isso foi estratégico segundo o analista político da cidade João Maria: “Deram a palavra a Madureira na hora do almoço para ele saber que não tem vez aqui”. No entanto, ao discursar Madureira faz elogios a Severino e disse para todos que ele era o homem de Tobias. Ainda tomado pela inspiração de seu discurso Madureira ver, em pé à porta de entrada da sala, o ilustre Severino. Este diz de onde estava: “Madureira, meus votos são seus”. O reboliço foi total. Os que diziam ser contra o lançamento de Augusto Souza, com ‘z’, é claro, como candidato por Tobias passaram dizer o contrário, agora o povo gritava: “Augusto por Tobias”. Madureira não entendeu o porquê que o maior coronel do sertão de Campos se tornou aliado dele. O tempo passou, Augusto ganhou para deputado estadual. O homem nunca pisou os pés na cidade de Tobias, nem se quer para agradecer os votos. Madureira continuou fazendo o seu trabalho como sempre fez. Mas a vida nos ensina coisas, e o sertão tem grandes mistérios. Certo dia dona Amaral ligou a tevê e assistiu uma reportagem que dizia que agora podíamos fazer uma viagem ao espaço. Esse era um projeto americano que foi por muito tempo interrompido por falta de recursos. A reportagem dizia que Severino de Tobias Barreto, uma pessoa muito influente estava vendendo passagens para a lua $250.000,00, e para marte $500.000,00. A reportagem também dizia que você podia rir ou chorar durante a viagem que contava com um guia ET do sexo feminino com aparência de oriental. As pessoas interessadas poderiam telefonar para o número que estava na tela ou procurassem por Severino na Rua Severiano Cardoso, 1234 próximo ao cruzamento da Rua Itabaianinha...
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