Nos últimos dias, todos nós temos visto a polêmica entorno da atual crise de duas instituições ambientais do Tocantins. Diversas denúncias, queixas e reclamações culminaram recentemente na saída do Superintendente do IBAMA e na intervenção do NATURATINS. Conforme a opinião pública tocantinense, tudo indica que o desdobramento dessa história está só começando e possivelmente muito coisa ainda vai surgir.
No passado, nós já tivemos diversos exemplos em todo o Brasil de órgãos públicos que apresentaram falhas, irregularidades e desvio de dinheiro público. Quando tudo isso vem à tona, é muito difícil encontrar uma explicação que justifique uma situação dessas. Nem é nosso papel também ficar julgando antecipadamente as pessoas, pois quem deve fazer julgamentos e estabelecer penas é o Judiciário.
Ao invés de tentar achar culpados ou querer mostrar os erros dessas instituições eu pretendo mostrar um outro órgão, que também trabalha na proteção do meio ambiente, mas que tem uma história bem diferente da situação em que se encontram atualmente o IBAMA e o NATURATINS. A instituição a qual me refiro é a CIPAMA (Companhia Independente de Policia Militar Ambiental).
A CIPAMA possui sede na capital e conta com três Pelotões Ambientais, o 1º incorporado à sede do Comando Geral situado na capital; o 2° sediado em Araguaína e o 3° sediado em Gurupi.
Todos três Pelotões são dignos de elogios, mas vou apresentar especificamente o 3º Pelotão Ambiental de Gurupi, pois tenho acompanhado bem de perto todos os passos, conquistas e sucessos de sua equipe.
Esse Pelotão foi criado em 13 de junho de 1999, com o efetivo inicial de 10 Policiais Militares, sob o comando do 1° Tenente Reginaldo Leandro da Silva.
No princípio, o 3º Pelotão Ambiental de Gurupi não possuía nenhum Destacamento e suas atividades concentravam-se no controle da caça e pesca predatórias em três lugares: (a) no entorno de Gurupi, (b) no rio Araguaia, na região conhecida como "Rebojinho" e (c) na circunvizinhança da cidade de Peixe.
Naquele primeiro momento, tudo era muito difícil. Só para se ter uma idéia dos obstáculos e dificuldades enfrentadas, podemos citar a falta de veículos e recursos, pois o 3º Pelotão Ambiental de Gurupi não possuía nenhuma viatura, o que dificultava muito o seu trabalho.
À medida que os anos foram passando, muita coisa mudou. Ao longo do tempo, o efetivo aumentou, houve a aquisição de viaturas e as ações foram ampliadas, o que acabou proporcionando uma maior integração com a sociedade tocantinense. Mesmo com todas as limitações encontradas no início, o 3º Pelotão sempre apresentou um ótimo trabalho. Esses bons resultados abriram as portas para o Tenente Leandro que, ao subir de patente, foi escolhido para comandar a Companhia em Palmas.
Com a saída dele, o 3º Pelotão Ambiental de Gurupi esteve por três anos (2004-2006) sob o comando do Capitão Laureno Justiniano Tebas, que realizou um amplo trabalho ostensivo de educação ambiental, através de três projetos: (1) João de Barro; (2) Agentes Ambientais Mirins e (3) Projeto de Reflorestamento das Nascentes e Matas Ciliares dos Mananciais de Gurupi.
O "Projeto João de Barro" teve início em 2004 e conta com a realização de palestras em empresas, assentamentos e escolas de Gurupi e municípios vizinhos. Nessas palestras são apresentados instrumentos e apetrechos utilizados na caça e pesca predatória, tais como: redes, tarrafas, arpões, armas de fogo e armadilhas. Além também de produtos e subprodutos da fauna, como por exemplo: peles de felinos, couro de sucuri, casco de tartaruga, chifres, animais empalhados etc. Vale mencionar que a utilização desses materiais torna as palestras mais atraentes e facilitam o aprendizado, especialmente das crianças e jovens. Outro aspecto que é destaque nesse trabalho trata-se das dinàmicas e brincadeiras realizadas pelo Soldado Juarez, que fazem com que todos se envolvam e se interessem pelas informações apresentadas.
A repercussão positiva do "Projeto João de Barro" foi tamanha que a CIPAMA passou a ser bastante noticiada nos veículos de comunicação da cidade. Isso proporcionou uma enorme projeção à essa instituição, o que possibilitou a realização dos outros dois projetos.
O segundo projeto, os "Agentes Ambientais Mirins", conta com a parceria da Prefeitura de Gurupi e está no seu terceiro ano de funcionamento. O seu público alvo são crianças carentes da rede pública, na faixa etária de 10 a 14 anos. Cada turma possui 35 alunos, onde são ministradas aulas teóricas e práticas. Nelas, os "Agentes Ambientais Mirins" recebem instruções de civismo, cidadania, auxílio escolar, educação ambiental, instruções de prevenção ao uso de drogas, noções de primeiros socorros e higiene pessoal.
O terceiro Projeto, "Reflorestamento das Nascentes e Matas Ciliares dos Mananciais de Gurupi", tem sido realizado com o envolvimento da Prefeitura e escolas de Gurupi, do Ministério Público Estadual e UFT. Ele enfoca a conscientização da população sobre a importància de preservarmos os cursos d´água de nossa cidade. Esse projeto, através do plantio de mudas nativas, busca a recuperação das nascentes e das margens dos córregos Mutuca, Pouso do Meio, entre outros.
Como reconhecimento pelo sucesso desses três projetos, o Capitão Laureno, após subir de patente, foi promovido para ocupar em Palmas o cargo de Sub-Comandante da Companhia. Atualmente, o Sub-Tenente Salvador Pereira Neto está Ã frente da equipe de Gurupi, mostrando a mesma competência de seus antecessores.
Um aspecto que deve ser destacado é que cada um dos três comandantes do 3º Pelotão Ambiental Gurupi possui personalidades e trajetórias de vida bem diferentes. Mas independente dessa questão todos eles tem algo em comum que se trata da seriedade e comprometimento com o serviço público.
A grande lição que aprendi ao acompanhar de perto a história da CIPAMA de Gurupi é que não é preciso nenhuma mágica ou milagre para que uma instituição alcance satisfatoriamente suas metas e atenda à s expectativas da sociedade. O que é preciso para isso é ter seriedade e engajamento pelo bem estar comum, e isso a CIPAMA tem de sobra !!!
O destaque que a CIPAMA tem alcançado junto à opinião pública tocantinense é certamente um grande exemplo para outras instituições do Tocantins e do Brasil.
Publicado no Jornal Atitude, edição n. 07, p. 02, de 27/03/2007. Gurupi - Estado do Tocantins.
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Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br
