Às vezes, eu saía com Leonora; a gente brincava como crianças. Certa feita, nós fomos ao parque, ela inventou de subir na roda-gigante e me forçava a acompanhá-la. Eu tinha o maior pavor daquela geringonça, porém ela me implorou tanto que concordei em segui-la com o coração nas mãos. Foi uma loucura. Assim que nos sentamos e a roda começou a girar, fiquei meio apavorado. Na descida, eu gritava feito um louco segurando sua mão; ela ria do meu medo e gritava também. No final, até que gostei da brincadeira. Confesso-te que, daí em diante, nunca mais tive medo de roda-gigante. Em seguida me convidou para correr na montanha-russa, aí eu chiei: nem por decreto, Leo; ali eu não vou de jeito nenhum. Ela fechou a cara e me disse: molenga! Nesse caso, eu vou sozinha. Se eu me der mal, você é o culpado. Eu a observava, à distância, enquanto ela acenava lá de cima. Por último, segurou minha mão e disse: nesse ponto, você não combina comigo. Eu respondi: ainda bem que é só nesse ponto. Você também não gosta de futebol, estamos empatados.
Leonora era uma pessoa bem expansiva, porém no nosso derradeiro encontro, ela parecia tensa. Fitou-me por um instante, baixou a vista e sussurrou: estou grávida... mas, não quero casar com você só por isso. Somos muito jovens ainda. Essa barra vou enfrentar sozinha porque não quero perder a minha liberdade agora. Ante tal revelação, senti uma vontade enorme de sorrir, chorar e pular ao mesmo tempo. Eu ia ser pai! Ela abraçou-me, também emocionada; logo depois se retirou quase correndo sem me dar oportunidade de falar qualquer coisa. Na esquina, virou-se para mim, acenou e desapareceu. O resto da história tu já sabes. (extraído do meu livro CONVERSA COM UMA BONECA DE PANO, editado pelo Clube de Autores:
https://www.clubedeautores.com.br/book/149235--CONVERSA_COM_UMA_BONECA_DE_PANO#.UwenQc641PQ
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