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Contos-->VINGANÇA MORTAL -- 09/02/2014 - 18:03 (GIVALDO ZEFERINO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A notícia da morte de Thiago não provocou impacto maior em Samuel porque ele já aguardava, a qualquer momento, uma manchete desse gênero. Veio-lhe à memória o pavor que o amigo tinha da morte e da velhice. Uma vez, ele dissera: "Eu me pelo de medo da morte, arrepio-me todo só em pensar na velhice. Cruel realidade, meus senhores! Mas já que não posso escapar da fatalidade, espero que a morte venha de mansinho, sorrateira, antes de atingir a senilidade, após uma grande festa, e eu estiver adormecido, sem ter de me despedir das pessoas na partida derradeira". Um de seus desejos foi concretizado: não conheceu a idade senil; morreu, entretanto, de uma maneira nada natural, nada suave.
– Triste fado! O nosso amigo colheu o que plantou – Foi seu único comentário.
Há alguns meses atrás, conversara com Thiago que, na ocasião, comentou com ele as mudanças ocorridas em sua vida, exibindo o aspecto de um guerreiro vencedor.
Dizia-lhe Thiago:
– Provoquei minha autoestima e me recompus. Um dia, olhei para mim mesmo e me perguntei: Então, meu bom Thiago, para que as drogas? Uma voz vinda do meu interior respondeu-me: Para destruí-lo, idiota! Tão-somente, destruí-lo. Aí, eu gritei: Chega! Eu não quero me destruir! Ainda é cedo para morrer!... Ah! Como eu penei, Samuel! A cada dia, sentia-me mais envilecido. A droga anulava minhas emoções e me eliminava aos poucos. As pessoas de bem me evitavam. Quantas vezes eu chorei recordando o nosso convívio! Eu, você, Augusto...
Uma força de vontade fora do comum invadiu o seu ego, e ele tratou de alterar seus velhos hábitos. Mudou de endereço, de costumes, montou um armazém de estivas, conheceu Verônica, uma psicóloga baixinha e envolvente de olhos esverdeados, com quem começou a namorar e fazer planos. Tinha pressa para recomeçar. Já se preparava para anunciar o noivado, entusiasmado com a ideia de casar e de ter filhos. Mas Thiago acordara um pouco tarde; seu tempo estava prestes a acabar.
Na época em que estava infiltrado no submundo das drogas, ele e um antigo camarada se desentenderam. Não se sabe bem o que aconteceu, mas deve ter sido um confronto muito sério porque, desde então, surgiu uma grande hostilidade entre os dois. Descuidou-se do perigoso inimigo, contudo este não o havia esquecido e aguardava a oportunidade de destruí-lo.
Nos arredores da cidade onde morou, um rico fazendeiro fora misteriosamente assassinado. Um detetive particular contratado pela família empreendeu minuciosas investigações, todavia nada foi descoberto a respeito do crime. O inimigo de Thiago acompanhava todo esse vaivém com bastante interesse. Em consequência do fracasso das investigações, apossou-se-lhe a ideia de incriminar Thiago. "Que preciosa oportunidade!" pensou. Analisou cada detalhe do homicídio, planejou cuidadosamente como deveria proceder e partiu para consolidar seu projeto diabólico.
– Doutor Giovani, eu sei quem matou o seu pai. O assassino... chama-se Thiago. Há três dias, num bar, completamente embriagado, deu com a língua nos dentes.
O veterinário, homenzarrão de quarenta e oito anos, expressão carrancuda e rancorosa, ouviu com interesse e desconfiança, o relato do desconhecido.
– Onde está o criminoso? rosnou com a voz trêmula e sussurrante.
– Eu não sei onde ele mora.
O homem ruborizou-se. A cólera veio à tona.
– Você vem a esta casa, me diz que sabe quem matou o meu pai, no entanto... ignora onde ele se esconde. Muito bem! Encarou o intruso com desprezo.
– Você acaba de reacender a minha fúria. Agora, me interessa saber o paradeiro desse energúmeno. Uma vez que descobriu quem é, trate de localizá-lo ou vai se arrepender, pelo resto da vida, de ter vindo me incomodar.
O delator tremia; nenhuma palavra saía dos seus lábios. Doutor Giovani deu uma volta pela sala e dispensou a incômoda visita com uma recomendação.
– Vinte e quatro horas! Tem o prazo de vinte e quatro horas para me trazer o assassino. Nem pense em escapar de mim, porque, aonde você for, eu estarei no seu encalço.
Estava agitado, pois lhe era impossível deslembrar o infortúnio do velho pai. Nunca seria tarde para punir o culpado. O delator retirou-se de mansinho, revoltado consigo mesmo, visto que esquecera uma informação deveras indispensável. Sem demora, entrou em contato com outros camaradas e, por sorte, descobriu o paradeiro de Thiago.

ooo

Sentado à porta do estabelecimento Thiago conversava animadamente com um cliente, então um homem estranho se aproximou, encarou-o com firmeza por um instante, e se retirou sem pronunciar uma palavra sequer. Ao cabo de vinte minutos, o homem estranho retornou escoltado por dois indivíduos armados e, erguendo o braço, apontou para ele e disse:
– É este o homem.
– O senhor está preso. Queira nos seguir imediatamente, proferiu um deles.
Thiago arregalou os olhos, surpreso, sem acreditar no que ouvia. Tentava se defender, e os dois gigantes obrigaram-no a entrar num automóvel, e partiram em seguida.
– Senhores, o que está acontecendo? Esperem um pouco! Permitam-me, ao menos, fechar o armazém. Preciso...
– Cale-se! gritou um deles. O que vamos fazer agora é muito mais urgente do que você imagina. Simultaneamente, desferiu-lhe uma tremenda coronhada na cabeça, que o deixou desacordado. O homem estranho sorria de prazer, antegozando o desfecho do enredo.
O automóvel corria velozmente na hora que Thiago despertou, sentindo forte dor de cabeça e viu o homem estranho que o encarava com um brilho colérico nos olhos. Thiago ainda abriu a boca, contudo não teve coragem de falar e abaixou a vista.
Ingressaram numa cidade grande, tomaram a estrada em direção ao Norte, e se afastaram da área urbana. Com o anoitecer, alcançaram o destino: uma suntuosa fazenda, distante pouco mais ou menos dez quilômetros da cidade. O homem voltou-se novamente para ele. De primeiro, retirou os óculos; posteriormente, o bigode postiço e, por último, a peruca que lhe encobria a calvície. Thiago estremeceu. Era isso! Finalmente, compreendeu toda aquela conspiração. Apenas balbuciou:
– Tobias?
– Enfim o encontrei, miserável! esbravejou o outro. Aguarde o que vai lhe acontecer, pois quem mexe comigo jamais ficará sem o troco, e você não seria uma exceção. Sabe o que houve? Um assassinato. O culpado nunca foi descoberto. Eu tive muita pena da família do morto, assim descobri você. Não é maravilhoso?
– Que tem isso a ver comigo?
– Você é o matador, meu chapa! E o inferno é seu destino.
– Monstro! Você é um monstro horripilante! Eu esperava tudo, menos isso de você.
– Estamos quites, irmão. Pode morrer em paz.
Estacionaram na frente de um casarão e os guardas arrastaram-no bruscamente para fora. Do interior do prédio alguém surgiu e veio atendê-los;
– Doutor Giovani me aguarda, disse Tobias.
– Ele foi à cidade, mas logo, estará de volta – o caseiro respondeu examinando com curiosidade aqueles homens que empurravam outro cabisbaixo e indefeso.
– Vou aguardá-lo, replicou Tobias secamente.
Conduziram o prisioneiro para o interior da casa e, com o assentimento do caseiro, o trancafiaram num quarto vazio. O terror tomava conta de Thiago que tremia dos pés à cabeça, possuído por um grande desespero. Todas as suas esperanças desmoronaram-se.
Por fim, apareceu o vingador.
Ele portava um cinturão de couro que expunha uma fileira de facas pontiagudas e bem amoladas. Examinou Thiago da cabeça aos pés, sem esconder a animosidade que o dominava.
– Quero denunciar um falso testemunho, disse Thiago encarando-o.
– Cala-te, Satanás! grunhiu o outro com os olhos faiscantes.
Súbito, uma das facas cintilou em sua mão direita e foi enterrar-se nas virilhas de Thiago que, com um grito de dor e de espanto, curvou-se para arrancá-la de sua carne. Já outra faca assobiava em direção a suas costas. O sangue jorrava em abundância, os golpes alternavam-se com maior rapidez. Thiago tombou; a vingança estava consumada. No chão, jazia um corpo todo picotado que ainda escutou uma voz longínqua:
– Pelo amor de Deus, Giovani, tu mataste um inocente! Não é este o assassino!
Mas, era tarde. Thiago acabava de expirar.
Ante tal afirmativa, Giovani descobriu que fora enganado, e praticara uma injustiça. Instintivamente, empunhou seu revólver e o descarregou sobre Tobias com todo o furor que um ser humano pode ser capaz de sentir por outro.
Tobias jamais suspeitara que alguém tivesse guardado este segredo para ser revelado exatamente naquela oportunidade. Regozijara-se com a desforra, no momento em que acabava de decretar o seu próprio extermínio. Maquinou a ação criminosa e transformou Giovani num instrumento de morte induzindo-o a eliminar um inocente, visto que, na verdade, só queria vingar o assassinato do pai. Sem demora, o homem bateu em retirada e desapareceu na escuridão.
"É impossível!... Devo estar sonhando!" – desesperava-se Giovani, deitado na grama perto do estábulo onde o gado ruminava a forragem. Ele, também ruminava o que acontecera consigo nos últimos dias: "Doutor Giovani, eu sei quem matou seu pai. O assassino... Chama-se Thiago. Há Três dias, completamente embriagado, deu com a língua nos dentes". "Quero denunciar um falso testemunho". "Pelo amor de Deus, Giovani, tu mataste um inocente! Não é este o assassino!".
– Maldição! Giovani gritou indignado. Havia exterminado a pessoa errada, abateu um bandido, e quem causou a morte do seu genitor continuava vivo em algum lugar. Gilberto, seu irmão de criação, apresentou-se um pouco atrasado para lhe comunicar a descoberta do verdadeiro matador. Seguramente, mais um crime haveria de ser cometido.

(Trecho extraído do meu livro ALUCINAÇÕES DE UM HOMEM CHAMADO POETA, publicado no Clube de Autores)




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