Lá no canto da sala, estava ela a esperar quem manipularia os bilros adormecidos na almofada. Madrugada e o cheiro de café que vem da cozinha, a todos convida para dar bom dia ao novo dia. E lá está ela, a almofada esperando tranquilamente pela maestrina que irá tocar a sinfonia da renda. Após o café, o homem pega a enxada e vai ao campo arar seu pedaço de chão, enquanto a mulher senta-se ao chão para então dar início à sinfonia das linhas entrelaçadas. A melodia se dá ao som dos bilros tocando entre si, ao mesmo tempo em que as notas musicais são desenhadas de acordo com o formato da renda. É uma orquestra sem espetáculo, sem plateia e sem teatro. É o som do trabalho dos que no campo, ousam produzir a arte natural que ainda resiste ao som das fábricas mecanizadas e sem vida. É som da vida, da história de uma gente.