Gaiola, abre a portinhola,
preciso entrar.
Abriga o meu corpo frágil,
acomoda as minhas peninhas ralas.
Que os jornais absorvam a umidade
de um peito que carrega coração choroso.
Ponha à vista a vasilhinha d& 39;água,
pois a sede é torturante.
Amiga,abre a portinhola.
Necessito me esquecer que tenho asas.
Há muito não são mais pródigas,
o vôo tem sido baixo,
rasante no solo alagadiço do óbvio,
do alimento escasso,
da água em gotas mesquinhas.
Adormecerei uns dias, ave encolhida.
Quem sabe, refeita, recobre parte do canto.
e ensaie vôo tímido pelas laterais.
Assim que me disponibilizar as suas grades frias,
feche rapidamente a entrada para o inoportuno.
Só o tempo da cura, do não cansaço,
do relógio sem ponteiros e marcador.
E as duas, gaiola e livre prisioneira,
pactuadas como feijão com arroz,
queijo e goiabada,
seio e sucção.
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