Esta história ocorreu com minha avó Dolores e suas amigas, contou-me quando mandou-me uma boa quantidade de dinheiro mensal pelo correio...
Quando li fiquei pasmo e com curiosidade...
“Caro neto,
Sei que enviei o dinheiro atrasado, mas a culpa não foi exatamente minha...
Minhas amigas fofoqueiras ouviram uma história que somente fui saber depois...
- Quanto quer pelo seu gato ? – perguntou Dona Lamares a mim.
Curiosa eu retruquei – Por que perguntas ? – sempre odiou gatos e outros animais e agora que o MEU gato... !
- Estou começando a gostar de animais... – mentiu rispidamente.
Nervosa, pois não gosto dessas formas de educação, respondi secamente – Olhe em frente de minha casa... tem alguma placa de “VENDEM-SE GATOS DOMÉSTICOS” ?
- Passar bem... – disse ela e saiu nervosa da frente da minha porta.
Entrei em casa, não muito curiosa, para tomar o chá... sabe como eu sou, neto, adoro tomar chá e cochilar...
Minutos depois do chá, comecei a ouvir alguns miados desesperados que vinham da rua... desatei a correr, pensando o pior...
Havia um grupo de garotos, alguns eu conhecia pois eram filhos e netos de minhas amigas, e estavam em volta de um gato... o meu gato !
Corri para próximo deles aos gritos...
- O que é isso que estão fazendo com o meu gatinho ? – perguntei colocando-o no colo..
- Procurando... – respondeu um garoto, mas logo interrompeu a frase.
- O que vocês estavam procurando no meu gato... ?
Os garotos estremeceram-se e logo depois saíram sorrateiramente, alguns dando breves desculpas... logo nenhum restou...
‘Mas o que estavam procurando dentro do meu gato... ?’ eu me perguntava a todo instante... ‘O que será que PomPom têm que todos querem ?’
Assim , temendo o pior, comecei a segurar o meu gato em casa até saber o que estavam querendo com o meu gato, para que não recebesse outro ataque... fiquei nervosa e curiosa, morrendo de curiosidade pedi ao meu marido, seu avô, que ficasse com o gato enquanto eu poderia sair e pudesse saber o porque do meu gato Ter um valor tão grande para todos...
Mas antes de sair de minha casa, fantasiei-me com algumas perucas e com algumas roupas que não estou habituada a usar, para não ser reconhecida... e sai rapidamente de casa...
Na esquina ouvi uma breve conversa, que logo parou quando um garoto descobriu quem eu era... esse garoto me era familiar... bem, o pouco que eu ouvi tinha a ver com o meu gato e com o dinheiro que acabo de mandar-lhe... a conversa vinha da Dona Matilde, a mulher a quem eu mais convido para tomar chá em minha casa... e no que eu ouvi descobri, infelizmente, que ela sabia que eu guardo o seu dinheiro perto do armário aonde tem a comida para gato, e um dia muito próximo... acho que fora ontem à boca da noite, não me lembro porque eu tomei chá tão tarde... e ela vira que eu, muito distraída, coloquei a comida para meu gato junto com o dinheiro que eu enviei-o... e minutos depois a gato estava lambendo os beiços e com o prato totalmente vazio...
‘Será que realmente eu colocara o dinheiro de meu neto para o gato ?’ perguntava-me... sinceramente ainda não sei...
Corri para minha casa para realmente confirmar de não o ter feito, pois não acreditava em Dona Matilde que era uma senhora fofoqueira e esquecida... comecei a procurar o dinheiro e... Nada !...
- Aonde está ?! – perguntava-me em voz alta – Aonde está ?!
Meu marido, seu avô havia saido, e largara o gato pela rua... aterrorizei-me ao pensar o que as pessoas estariam fazendo com ele, com o meu gatinho, com o PomPom... Será que estariam maltratando o coitadinho ?... Será que estariam virando ele pelo avesso ?... Será que o abririam ao meu ?...
A cada minuto pensava no pior... a cada minuto achava uma maldade que estariam fazendo com ele... a cada minuto me sentia-me pior e mais culpada pelo ato...
Joguei-me no sofá e desatei a chorar... chorava pelo meu gato, pelo dinheiro, pelo gato e o dinheiro...
Algumas horas depois, após o meu marido, seu avô, ter chego eu expliquei o ocorrido e ele disse que talvez não passasse de uma brincadeira ou uma mentira, continuou e afirmou que o melhor era ter solto o gato pela rua, e ainda brincou dizendo que se o gato gostou de comer tanto dinheiro é porque o dinheiro é ‘doce’...
Ao crepúsculo, Dona Matilde apareceu em minha porta, estava a segurar em um lado o meu gato e do outro sua mala... uma bolsa bem grande, até parecia extravagante a cena, pois Dona Matilde era uma idosa e um pouco baixa e usar uma bolsa tão grande...
- Aqui está o seu gato, e... – deu-me o gato e tirou da bolsa um saco plástico que dentro havia um bom dinheiro... o meu dinheiro que acabo de mandar-lhe ! - ...e o seu dinheiro...
Nunca mais ela falou no assunto... ao retirar o dinheiro saco o coloquei rapidamente, tinha um cheiro familiar e enjoativo...
Agora já chegou à você, e você deve usa-lo do modo que quiser, mas cuidado... não sei exatamente de onde veio ou para onde vai...
Beijos,
Dona Dolores... Vovó”
Ao ler a carta, peguei o dinheiro, tinha um cheiro forte e enjoativo mas não familiar a mim...
O que será que realmente aconteceu ao dinheiro para ficar daquele jeito... ? Será que realmente veio do gato de minha avó... ?
Perturbado... o gastei.
