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Contos-->Dona Mansinha -- 22/10/2013 - 17:49 (Brazílio) |
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Ninguém dava muito por Dona Mansinha. A não ser na hora do recreio, quando os
meninos da "Caixa Escolar" lançavam-lhe o olhar suplicante e o prato de alumínio ou
a caneca esmaltada vazios, luzidios e vadios, como os seus estômagos. Mas tudo na
perfeita ordem, em fila, senão mais pesado que a fome, vinha, nada amigo, o castigo.
Dona Mansinha, pretinha, magrinha, chupadinha, governava naqueles instantes. Do
porão, pois não.
A outra servente, branca e crente, a Tunica, também a colher metia, mas Mansinha,
comandante, é que tudo geria.
Meninos da Caixa, que tinham acesso à sopa ou ao leite de Mansinha eram
maiormente os mais necessitados, órfãos, filhos de pais desempregados e outros
babados; doutra forma uma caneca de leite quente, açucarado, saía por um
Tamandaré, um cruzeiro que foi e que pra mim ainda é. Ah, como aquela notinha azul
clara a fome me amansara. E pela mão de Dona Mansinha.
Quando voltei a revê-la, uns vinte anos depois, numa quermesse não muito longe
do grupo escolar de que se aposentara, alvinha, alvinha, já ia sua carapinha, e como
sempre, curtinha. A boca mais murcha, o rosto mais crestado, e sem se meter com a
concha, plácida, quietinha, Dona Mansinha. Não me reconheceu, freguês doutrora que
lhe fui eu.
Quiçá infiel por haver uma só vez provado daquele leite com mel. |
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