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Contos-->Darci pisca-pisca -- 22/10/2013 - 11:01 (Brazílio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Do eletricista Darci a mais duradoura lembrança que me vem é a daquelas

rápidas e intermitentes piscadelas que mal permitiam ao interlocutor

afirmar se eram verdes ou castanhos os seus olhos. E não impediam

contudo que o dono daquelas írises indefinidas fosse um homem de visão,

de prudência e de cristalina honestidade.

Maria, a mulher com quem fora casado uns trinta anos, poderia quiçá achar

que aquele mesmo intenso piscar que lhe conquistara o coração poderia,

agora com o Darci à janela, estar sendo assestado noutras direções,

noutros corações. Afinal, aquele beco dos Canudos, onde viviam, era de

muito trânsito. Mas a Maria bem sabia que a vida não era só o piscar. Era

o labutar que bem fazia, e em ajudá-la o Darci se comprazia, e ao fim e

ao cabo, tudo bem se conduzia. E mais da vida, Maria ainda sabia: cantar.

Soltava a voz, se não feito um rouxinol, chegava pelo menos à beira dum

papa capim de coleira. E entre o terno piscar e o eterno cantar, foram

criandos os filhos, juntando seus teréns, mesmo que valessem vinténs.

Até que um dia, foi-se Maria. O coração. E a paixão.

Esposo dedicado, Darci não se fez de rogado. Cumpriu o doloroso dever de

enterrar a companheira, e de só, sozinho, sentir a dor verdadeira. Que os

filhos insistiam em partilhar, mas urgia o pesado fardo carregar.

E passado o luto, não se passou a luta. Até que dali da janela, entre muitas

e tantas piscadelas, o viúvo Darci deu a mirada certeira, achando nova e fiel

companheira.

Curtiram bons anos já no crespúsculo de vida sessentona e mais além.

Piscadelas como convém, sem as canções, porém.

Até que, num passeio de automóvel, conduzido pelo enteado, Darci não

pode escapar da emboscada num trevo fatal. Num piscar de olhos.
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