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Contos-->Diucá é matá... -- 22/10/2013 - 10:40 (Brazílio) |
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Sacudidão pros seus sessenta e poucos anos, aquele
mulato, de quem ficou a memória apenas ser `o pai da
Zeca`, impressionava tanto pelos bigodes quanto pela
fala.
Uma só a visita que vespertina fez às irmãs
Velusianas, todas solteironas já aposentadas da
companhia de tecelagem, deixou profunda a marca de sua
sapiência e hombridade.
`Pai da Zeca` era mesmo o pai de Zeca, colega de
fábrica mais moça daquelas velusianas, que ainda teria
um tempo pela frente antes de se dedicar aos gozos
perenes da aposentadoria. A separação delas, contudo,
não desfazia os laços de amizade que, se iam ficando
tênues, eram reforçados com o suprimento de bananas
que o sítio do pai de Zeca produzia, e o próprio pai,
`Pai de Zeca`, enviuvado, cuja visita à casa das
aposentadas, e ainda casadoiras, ela, a Zeca,
fortemente recomendara.
`Pai de Zeca`, os belos bigodes mostravam, não vivia
só das bananas: aprendera a lidar com trator e
contava, com largos e fluidos sorrisos as maravilhas
que o domínio da máquina lhe proporcionavam.
Graças àquela habilidade, mais destra e prática do que
a da enxada, o `Pai de Zeca` lograra ser mandado lá
pros lados do Paraguai ou Bolívia para trabalhar na
construção de estradas `...e viver no meio daquela
indiaiada`. Ganhara bom dinheiro, dizia, enquanto
provava do bolo de chocolate com café - feitoz
especialmente para ele - pelas Velusianas, mais
maravilhadas elas, ao lhe ouvirem os relatos.
Muito mais havia aprendido lá por aquelas bandas
arriscadas, frisava, pois havia homem demais para
poucas mulheres que por lá se aventurassem. Daí,
concluía, e sorria: casamento lá, pra mulher é fácil
demais, conheço lá muito fazendeiro abastado
necessitado de uma união. E moça daqui de Minas é um
tesouro em cima da terra - e abaixo do céu.
Das animadas Velusianas, a mais exaltada era
Justiniana, justamente a primogênita, que ainda
sonhava com a promessa do véu e grinalda que se
desfilava docemente dos bigodes do visitante.
Agora, assinalava ele com certa gravidade, o difícil
lá é a língua. Poucos entendem e pouco entendem a
nossa. Temos que aprender a língua deles, por exemplo,
diucá é matá...
Contudo, nem aquele pressagioso vocábulo que escolhera
para exemplificar a questão linguística parecia
impactar negativamente as casadoiras Velusianas.
Continuavam deslumbradas com a perspectiva de quiçá
uma nova vida e andavam certas de uma mais próxima
visita do Pai da Zeca, aquela figura envolvente e
convincente.
Promessa feita, ilusão logo desfeita. Poucos dias
depois, numa desafortunada manobra tratoral, a
máquina, insensível aos sabores e saberes da vida,
irremediavelmente, o diucara. |
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