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Cronicas-->A SOGRA DO GIGOLÓ -- 29/03/2007 - 13:35 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A SOGRA DO GIGOLÓ

Francisco Miguel de Moura*


Diante da diversidade de uniões familiares, umas oficiais outras não, o parentesco virou um pandemónio. Em determinadas situações, novos nomes podem ser inventados. O escritor Ozildo Batista de Barros, picoense, advogado e professor, poeta, quando morava em Teresina arranjou um, denominado de "co-sogro", para indicar minha relação familiar com o pai de minha nora. Não sei se falava em tom de brincadeira. De qualquer forma, minha curiosidade me fez ir ao "Aurélio" e não encontrei a palavra. Onde poderia mais buscar?
Esta crónica não é nada de invenção, mas a denominação "sogra de gigoló", que lhe dá o título, até parece que sim, Mas não, pois está na linguagem do povo, apanhei-a na conversa de uma mulher já idosa, acompanhada da filha, diante de um funcionário da Prefeitura, onde queria legalizar um terreno, pagar os impostos etc.
A velhota entrou com uma papelada enorme na mão e pediu explicações ao funcionário sobre o seu caso:
- Quero transferir um terreno de meu "genro" (já falecido) para seus filhos - tidos como filhos dele com minha filha, portanto meus netos.
O funcionário intervém:
- Sua filha e esse seu "genro" eram casados?
- Era pra serem casados, mas não eram. Aliás, a "fulana" (apontava pra filha) começou a botar "chifre" nele há muito tempo, antes mesmo do nascimento dos filhos. Acho que "chifre" dói, ele ainda deve de estar tremendo na sepultura. Foi só o homem fechar os olhos, esta mal agradecida já estava ali, com outro, no beiço, chorando...
- Casou com este outro?
- Não, doutor, ele era e continuou sendo o "gigoló" da "menina". E ficou como herança junto com os meninos. Já estou cansada de comprar coisas pra minha filha. Se ela fosse casada com meu "genro"... Quero transferir o terreno pra meus netos, ir morar lá com eles, onde vamos fazer uma casinha. Pode?
- Acho que pode.
- Não quero que aquele gigoló pegue em mais do que já pegou. E minha filha não pode mais sustentá-lo. Trabalha a noite toda quando aparece freguês e mesmo assim ganha muito pouco.
Vi todos os gestos e ouvi todas as palavras da mulher, inclusive o assentimento da "moça", filha da velha, e entrei na conversa, porque estava muito divertida:
- D. Maria da Glória (ela pronunciava Gulora), você tem razão: "Gigoló é luxo, só tem quem pode.".
- É mesmo, seu moço, e eu sou a sogra e sei quanto esse luxo custa. As crianças estão barrigudas de lombrigas como o senhor está vendo, só comem uma refeição por dia, quando consigo pegar umas piabinhas no rio.
D. Maria da Glória pensou mais um pouco e acrescentou:
- Mas ele não tem onde cair morto e eu sou sua "sogra". Só não sei como expulsá-lo de casa. Tenho pena.
Não esperei mais nada, certo de que o funcionário iria resolver favoravelmente a proposta de D. Maria da Glória, considerando-a justa e até legal, afinal de contas ela era a mãe da "fulaninha" e esta parira aqueles filhos. Mas seria necessário apresentar a certidão de nascimento da filha e dos filhos a quem a herança iria ser transferida.
Eis uma sucessão muito estranha, levando-se em conta que D. Maria da Glória tinha muitos "genros" e talvez nenhum deles fosse proprietário, exceto o falecido, que, coincidentemente, não seria o pai dos filhos herdeiros. Mas, enfim, a família precisava ser protegida.

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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, Piauí. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br
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