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Cronicas-->CRÓNICA SOBRE AS RAZÕES DO AMOR -- 28/03/2007 - 01:06 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CRÓNICA SOBRE AS RAZÕES DO AMOR
João Ferreira
27 de março de 2007

Num canto de restaurante de quadra, em Brasília, após o expediente numa secretaria do Itamaraty, dois amigos diplomatas resolveram aliviar as tensões de trabalho antes do regresso ao lar. Despiram o paletó, colocaram-no nos braços da cadeira, arriaram a gravata e sentaram. Um drink para descontrair e uma conversinha para colocar as coisas em dia. Os dois viviam histórias quentes de amor. E nada mais natural do que uma conversa para descontrair falando do que mais gostavam. Em pouco tempo, enveredaram por um assunto quente ainda pela vivência e pela leitura. Na mesa, como cardápio vivo, um conversinha amena sobre as razões do amor. Hoje iria ser isso.
Um deles tinha lido naquele dia um texto de Rubem Alves. Entre as várias considerações que leu, pinçara uma frase que achou apropriada para discutir com o amigo: "os místicos e os apaixonados concordam que o amor não tem razões" para ser justificado. Havia ali muito material para divagar, sob o bafo de um dia que escurecia e de um céu que prometia lindas estrelas na noite. Sabiam que o próprio Pascal dissera que "o coração tem razões que a razão desconhece". Enredados que estavam, viviam o amor mas não racionalizavam sua vivência. Achavam bonito vivê-la descontraidamente e preservá-la na espontaneidade e na inocência. No desenvolvimento do diálogo, o outro amigo lembrou-se de um texto de Alberto Caeiro que exprimia de uma maneira poética mais bela o mesmo pensamento dos místicos e dos apaixonados em "O guardador de rebanhos". Dizia Caeiro: "pensar uma flor é vê-la, cheirá-la e comer um fruto é saber-lhe o sentido".. E ainda: "eu não tenho filosofia: tenho sentidos. Se falo da Natureza não é porque saiba o que ela é/ Mas porque a amo e amo-a por isso.../Porque quem ama nunca sabe o que ama.../Nem sabe por que ama, nem o que é amar.../Amar é a eterna inocência...E a única inocência é não pensar." Este texto é de 1914. Mas os amigos acharam-no válido, eternamente válido.
Foram comentando no ritmo das disposições que traziam depois de uma jornada de trabalho. O drink estava quase terminando. No final, admitiam, seguindo a opinião de alguns autores, que o amor é um estado de graça...E se é um estado de graça, concluíam que importa vivê-lo sem alterá-lo...vivê-lo com inocência, numa dádiva mútua, de confiança e convivência. Algo assim como no ritmo do sol que irradia, aquece, alegra, se doa e dá vida à terra, sem outras razões além das que sabemos que é uma fonte de energia irradiante...
Sensíveis e cultos, os dois amigos acharam que em rigor as palavras não dizem nem explicam tudo sobre o amor. Elas estão muitas vezes aquém ou além do que acontece. No fundo, a expressão da energia anímica tem outros caminhos e outras expressões que vão além da simples palavra. Expressões que estão contidas nos silêncios, nos corações, nas sensações, no estado íntimo de ser, de querer, de sentir, de desejar e de deixar fluir em paz e gozo os mais íntimos sentidos de bem-estar! Para eles, amor é um acontecimento de duas almas que escrevem uma história mútua de sentimento e de doação, de entrega ora consciente ora inconsciente, sem espaço para mais nada. Entusiasmados, revendo nas palavras a própria história de amor que viviam, citaram e conversaram longamente sobre um episódio que é narrado pelos biógrafos de Albert Einstein. Diz-se que quando o inventor da teoria da relatividade tinha de 4 a 5 anos, o pai lhe mostrou a agulha de uma bússola, girando de um lado para o outro. O menino ficou espantado e sentiu o grande toque do mistério do universo. É o próprio Einstein que narra essa experiência:
[...] ainda me lembro [...] que esta experiência provocou em mim uma impressão profunda e duradoura. Tinha de haver algo muito bem escondido por trás das coisas.».
Os dois amigos do Itamaraty permaneceram ainda falando de amor e de Einstein. A conclusão deles era frontal: na Natureza e no Amor, tem "de haver algo muito bem escondido por detrás das coisas". A esse algo escondido chamaram "mistério". Sim, mistério. Razões profundas que o homem não domina. Porque é o mistério que sustenta a humanidade e que torna as coisas grandiosas!
João Ferreira
27 de março de 2007
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