LEGENDAS |
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Contos-->Alaranjada cavalar -- 19/09/2013 - 04:07 (Brazílio) |
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Quanta coisa vinha à porta, ou ao portão, a preço de ocasião? Pena era faltar,
fatal, o adicional tostão, pois tudo era então tão medido, como a água e o fubá do
ditado doutrora, já pra escanteio jogado agora.
Ocride, dos olhos de esmeralda, já bem velhinho e por tão calvo salvo de algum
piolhinho, aparecia na estação das laranjas, montado num cavalo acinzentado,
senhor de um par de balaios com suas laranjinhas, outro par de esporas em torno
dos pés nus, sujos e maltratados e, ai do rocinante se não o obedesse no instante.
A pele escalavrada da barriga do animal exibia as marcas da dura supremacia do
bípede que o governava.
Um a um, aproximava-se a freguesia para ir ganhando intimidade com a
mercadoria. Apalpava-se, regateava-se, desdenhava-se e por vezes, se comprava.
Ocride jurava, de pés abertos pela circunstância, que eram doces as frutas que
vendia. Campista, afirmava, bem antes da `da bahia` tomar o reinado dos laranjais,
mesmo os remotos mais.
O grau de doçura era sempre discutível e contestado, até ser provado e raramente
desaprovado. Mulheres eram as mais polêmicas, jamais tomando gato por lebre, ou
lebre por lebre mesmo, antes de muita apalpadela e regateio na sequela.
A criançada era que, sem acesso direto aos balaios, se aglomerava à volta do
cavalo, cujo cheiro, mais que laranjeiro, recendia por inteiro.
E justamente no breve descanso das paradas comerciais é que o animal, mais
relaxado, dava seu recado: desembainhando suas posses - diante do olhar
inquisitivo da meninada, e do reprobatório das senhoras - urinava solto,
desenvolto, a alaranjada amônia da cavalgada de muitas horas. |
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