Usina de Letras
Usina de Letras
24 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62878 )
Cartas ( 21345)
Contos (13290)
Cordel (10349)
Crônicas (22569)
Discursos (3246)
Ensaios - (10550)
Erótico (13587)
Frases (51270)
Humor (20125)
Infantil (5547)
Infanto Juvenil (4879)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1384)
Poesias (141125)
Redação (3345)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2440)
Textos Jurídicos (1965)
Textos Religiosos/Sermões (6311)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->A Ção dos pastéis -- 17/09/2013 - 11:59 (Brazílio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Você que é do tempo do ginásio, Gildásio, comigo há de convir: muito lá teve que

esgrimir. Minha vida ginasiana foi de 62 a 65: peguei uma Copa e uma revolução.

A ilusão da Copa murchou logo na edição seguinte do torneio, mas a redentora só

nos deixaria ao completar sacudidos 21 anos.

Concentremo-nos contudo naquele quadriênio que me marcou a existência, e por

pouco teria desaguado na desistência, pois foi um período conturbado lá em casa, e

papai, desiludido com a fábrica, começava a se persuadir de que a melhor

educação para a juventude era o trabalho. Trabalho mamãe teve em convencê-lo

do contrário, mas sua perseverança prevaleceu.

E, com a irmandade, ia tirando de letra, nem sempre na melhor grafia, os encargos

letivos. Era, em geral, de boa qualidade o corpo docente, e havia aquela motivação

de se estar aprendendo algo além, que nos levaria a ser mais alguém. E até a

companhia, com que se competia, bem fazia.

Driblar a fome ao longo da quatro a cinco horas matinais é que era um desafio. E

aí, não se singularizavam os menos dos mais aquinhoados. Todos éramos uns

esfomeados, pela dureza da concentração nos estudos, ainda agravados. Ainda não

havia uma cantina e se houvesse, estaria acima de muitas posses.

Foi quando a Ção deu sua lição: sem quiçá ter encarado o primário, lá de seu fundo

de quintal, que divisava os terrenos do ginásio, a Ção, em ação, desafiou a cerca

de arame farpado para oferecer um café com pastel para a molecada. Mas mais do

que a cerca, rompeu ela também o apartheid da negritude, que tanto desilude,

num café ainda mais preto do que sua pele. E o suplementou com pastéis. Que não

chegavam a uma brastemp, tanto em forma ou conteúdo, mas que enganavam a

fome. Também não davam pro bolso de todos, mas atendiam os mais afoitos.

Sem acesso regular àquela iguaria, arranjei, todavia, uma forma de homenagear a

pasteleira quando o Professor Plínio Malachias, entusiástico, bombástico, nos

tentava inculcar as noções dos modos e tempos do verbos. À sua pergunda a quem

pudesse definir o que era ação, eu lasquei: a Ção é aquela mulher que vende

pastel. Mas minha voz foi tão fraquinha, vai ver que de fome, que só um colega ao

meu lado, o Osvaldino, foi que notou e me olhou atônito: se o Professor tivesse

ouvido o que Vc falou ele te botava pra fora. E não sendo a hora do recreio, nem

pastel - sem recheio - eu poderia comer.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 9Exibido 488 vezesFale com o autor