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cronicas-->Tia Joana -- 16/03/2007 - 05:52 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Tia Joana

Lembro que o Juca, meu pai, chegou da mata exalando um cheiro de cachorro-do-mato. Ao menos naquela noite ele tinha um cheiro terrível, o qual lhe subia pelas botas e chegava ao meu nariz. Foi numa noite, depois que ele retornou dos morros, aonde, segundo ele, matara vários bichos peludos. Ele dizia que eram cachorros-do-mato, uns comedores de bezerros. A foice do Juca sangrava, o cheiro era mais que horrível. Não gostei de ver a cena. Acho que eu era mais amigo dos cachorros-do-mato e tinha mais pena deles do que dos bezerros que o Juca tinha no curral de casa. Mas isto é outra história.
Do meu quarto ouvi quando a Tia Joana disse que tinha pressa, muita pressa. Pressa pra quê, Tia Joana? Pergunto, porque nesse tempo ela estava curtindo um càncer bravo no cérebro e de fato acabou morrendo alguns dias depois. Mais tarde vim a descobrir que ela tinha um longo caminho a percorrer e tinha também razão de sobra para tanta pressa. A Tia Joana sabia que estava para morrer em breve e tomaria o caminho da Nebulosa da Águia, uma galáxia que fica muito distante da Terra (os astrónomos também costumam chamá-la de "Os pilares da criação"). São treze bilhões de anos-luz daqui até lá e sabe-se que a Tia Joana, apesar de estar navegando à velocidade da luz, ainda se encontra a meio caminho do seu destino.
O Pedrinho Engraxate, por seu turno, diz que não teme a morte nem um pouco. É muito corajoso esse Pedrinho. Ele gosta da vida mas vive dizendo que "Morrer é coisa à toa... faz parte do esquema..."
Eu, da minha parte, acho que Deus cuida de mim todos os dias, usando minhas defesas internas, meus anticorpos naturais e assim vai curando minhas mazelas com medicamentos feitos, por Ele mesmo, há bilhões de anos. Silenciosamente, todavia, com o edital já publicado, segue preparando meu dia final, polindo meu candelabro dourado de pouquíssimas velas.
Na verdade, passei a vida toda temendo a morte. Eu tinha ciúmes dos que iam ficar com as coisas boas do mundo, com as minhas coisas. Magoava-me ter de deixar para traz meus parcos bens materiais, meus sonhos e desejos, minhas modestas conquistas. Ainda que tenham sido poucas, não seria bom deixar um mundo tão bom e bonito para os outros ficarem gozando a vida, me gozando.
Raciocinem comigo: nunca fui a Paris, Sevilha ou Machu Pichu, mas irei lá por acaso quando morrer? Se isso for possível, aproveitarei a leveza da morte para viajar por distàncias cicloidais, visitarei lugares muito além de Júpiter...

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