Usina de Letras
Usina de Letras
150 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62072 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50478)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Humor-->Meu Amigo, o Título de Eleitor -- 29/10/2004 - 19:42 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

MEU QUERIDO TÍTULO DE ELEITOR
(Por Domingos Oliveira Medeiros)

Aproveitando que este ano, aqui em Brasília-DF, não houve eleições municipais, em face das características de ordem política de nossa capital, sobrou-me um tempinho para escrever-lhe esta pequena carta, a fim de trocarmos idéias e colocar nossa prosa em dia.

Por aqui, tudo na mesma, como sempre. O presidente repete os mesmos discursos e as mesmas promessas de seu antecessor. De que está fazendo o possível, que vai fazer o que deve, e que, não fosse a falta de recursos, tudo estaria feito. E arremata: - temos que ter paciência (a história da repartição do bolo, lembra?) - não podemos ser irresponsáveis -, dizem os presidentes. - Crescer com segurança e sempre com o pé-no-freio, para manter a inflação sobre controle. Aumentar a taxa de juros, para dificultar o crédito, e evitar a corrida às compras.

Tem sido assim, você sabe. Às vezes, as coisas são ditas com gracinhas e bom-humor. Todos ouvimos, poucos acham graça, e muitos choram e esperam pelas próximas eleições. Eleições que se igualam às escolas-de-semba: na quarta-feira de cinzas, todos começam os preparativos para o carnaval seguinte. Só que, no caso das eleições, há mais um agravante: a reeleição. De prefeito a presidente. E, não vai demorar, teremos a reeleição para presidente do Senado e da Câmara Federal.

Parece que todo mundo, de uma hora para outra, resolveu entrar na política. Nunca vi tanta gente querendo ajudar o país. Política virou mania. Só que tem um problema: tem causado muita confusão e desconfiança. A população já não agüenta tanta baboseira.

Basta dar uma olhada no comportamento dos candidatos. As campanhas, via de regra, tornaram-se verdadeira guerra. Todos denunciam todos. Não respeitam nem a vida privada. Palavrões e insultos. E o pior de tudo, ao que parece, todos acabam, de um acdrta maneira, tendo razão. Acertam no alvo. Quando não caluniam ou matam uns aos outros.

É tanta violência, que estou pensando em lhe deixar, meu caro Título Eleitoral, e passar para o outro lado. Só votarei, de agora em diante, em quem ainda confio: em mim mesmo.

Ademais, preciso fazer o meu pé-de-meia. Com raríssimas e honrosas exceções, quase todos os candidatos eleitos, nos últimos dez anos, aumentaram o seu patrimônio em mais de duzentos por cento. Estão ricos. Possuem lanchas, iates, carros importados, e bilhões de dólares em contas bancárias de países considerados verdadeiros “paraísos fiscais”.

Não sei , exatamente, o que a expressão significa; porém, aprendi que todo político, que consegue um dinheirinho suado, e resolve, por segurança, mandar para o exterior, é perseguido politicamente pelos seus adversários. Pura inveja.

Por isso, meu amigo, quero, depois de eleito, aprimorar meus conhecimentos sobre uma tal de “caixa dois”. O que é isso ? Dizem os mais experientes que é pura prevenção. Pensar no futuro. Fazer uma poupança de olho nas próximas eleições. Afinal, o povo merece respeito. E depois, há a possibilidade, se eleito, de trocar meu apoio ao governo para ser titular de um desses trinta e cinco ministérios. Já pensou? Ficarei responsável por uma soma considerável de recursos financeiros para fazer o que me der na telha. Se é temeroso? Claro que não! Pelo que já ouvi falar, a fiscalização é deficiente, pois todos, na verdade, estão ocupados com seus próprios interesses. Não têm tempo para detalhes como este.

E tem mais: como ministro, disponho de centenas de cargos de DAS, (cargos comissionados), para a ocupação dos quais posso nomear quem eu bem quiser. E apesar de serem cargos de direção e assessoramento superior, (cargos de livre nomeação e exoneração) a legislação pertinente não exige qualquer escolaridade ou experiÊncia para seu ingresso. Basta mandar datilografar a portaria de nomeação. É pura moleza! Mamão com açúcar! Minha família toda arrumará emprego. Finalmente!

Só tenho que ter o cuidado de nomear, parentes e amigos para cargos do quadro de pessoal comissionado de outras Pastas, a fim de não dar o que falar. E, em troca, no meu ministério, nomearei parentes e amigos de meus colegas ministros. Uma mão lava a outra.

E a coisa vai longe. Terei imunidade parlamentar. Foro privilegiado. Verbas de gabinete, para nomear quem eu quiser, sem concurso público. Verba indenizatória, para eu gastar durante minhas viagens a “serviço”. Cotas, em dinheiro, do orçamento da União, no caso do deputado federal, para eu fazer a média junto ao prefeito e ao meu eleitorado municipal. Coisa de vereador ? Sim, eu sei. Mas, já que eles não disporão de tempo ou interesse, eu faço por eles. Não sei ficar parado. Gosto de trabalhar. Você sabe disso. Ainda mais com tanta grana.

E, para completar, com meu curso de Direito, e outros tantos que conseguirei facilmente, poderei ser o presidente do Supremo Tribunal Federal, Procurador da República e Chefe do Ministério Público, cumulativamente, além de conselheiro ou presidente do Tribunal de Contas da União, Embaixador, e tudo o que você nem imagina. Detalhe: sem concurso e nomeado pelo presidente da República. É mole?

E, no final do ano, o Natal é gordo. Tem a tal da convocação extraordinária. Mais um monte de salários, por alguns dias de trabalho. Trabalho duro, é certo. Para colocar o serviço do ano todo em dia. “Time is money”.

Caro Título Eleitoral, sei que você deve estar estranhando a mudança de comportamento. Mas não se preocupe. Não abandonarei, totalmente, meus ideais de fraternidade e de ajuda aos nossos semelhantes. Se eleito, com a ajuda de grandes empresários, prometo arrumar emprego para todo mundo. Acabarei com a fome neste país. Todos terão direito a três refeições diárias, no mínimo. Quem agüentar, comerá mais. Comida balanceada. Nutritiva e farta. Quem passar mal, contará com assistência hospitalar de qualidade. Quero ver toda criança na escola. Vamos acabar com o analfabetismo. Natural e digital. Vamos semear bibliotecas por esse Brasil afora....

Cá pra nós, meu prezado Título, a gente demora mas aprende. Não votarei mais em ninguém. A eleição, um dos pilares da Democracia, está caindo de podre. Não representa mais a vontade popular. O interesse é de ordem meramente econômica. Ficar rico e isento de cobranças. Imune, quase que totalmente, às denúncias e investigações de CPIs, da Justiça e do próprio Ministério Público.

Enquanto não se fizer uma séria e ampla reforma política, não contem comigo. A menos que, em caráter temporário, e até o final das reformas, fique acordado que os cargos ditos eletivos serão preenchidos mediante processo seletivo, de provas e títulos, de caráter eliminatório e classificatório, (concurso público) , do mesmo jeito que se fazem para a grande maioria dos cargos do Poder Executivo, e de todos os cargos administrativos e membros da magistratura e do Ministério Público.

Cansei de esperar pelo aumento do salário mínimo. Não suporto ver um médico, cirurgião, amigo meu, estudar tanto para concorrer a uma vaga no serviço público, para ganhar cerca de R$ 2 mil reais por mês.

Até a próxima eleição. De agora em diante, como candidato. Eleição, como eleitor, nunca mais!... Que me perdoem os políticos honestos.

29 de outubro de 2004




Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui