N O T U R N O
Ainda ontem,
eram os teus olhos vivos
enclausurando meu por do sol,
deles eu via o mar e pétalas de luas
num crescente entardecer...
Exilado na penumbra do quarto,
e dos meus espelhos embaçados
tu chegavas insone de azul em afago.
Eu tinha um encalhe de ânsias no peito,
anunciando as cores do naufrágio,
ceifando o desejo do pecado...
Acinzentava-se o céu noturno
e laminas furiosas cortavam o ar
vibrando no corpo da noite
de onde sangravam sentimentos
esquecidos em naftalinas,
emergiam-se serpentes...
Serpenteiam-se corações entrecortados
mas pássaros noturnos recolhem a noite
em retalhos, luas e estrelas aos farrapos,
onde o vagazul escapa solitário!
O amor se fez de cicatrizes,
que o desejo da noite não detém,
queria prender-te a mim, nada além...
Nhca
05/01 |