No átrio de uma agência funerária, último grito em progresso galopante, os familiares e amigos de dois defuntos, que nada tendo a ver um com o outro estavam por mero acaso em velório simultâneo, descarregam entre si os habituais lamentos e desabafos sobre as coisas da vida que a morte tem o condão de esclarecer muitíssimo bem.
Uma das viúvas, saída de uma das contíguas capelas plenas de flores, dirige-se a um dos responsáveis pelo chorudo e sempre bem decorrente negócio, considerando:
- Oh... Sabe... Meu falecido adorava a cor azul. Que enorme pena tenho de meu marido neste derradeiro instante. Gostaria tanto que pelo menos fosse inumado a seu gosto...
- Ah... Minha senhora... Como não nos foi feita qualquer antecipada recomendação, partimos do princípio que o preto é a cor clássica a usar nestes infaustos acontecimentos... Mas... Mas a senhora manda. Acabo de saber que há pouco vestimos um finado de azul e poderemos...
- Credo... Apre... Estará a sugerir-me que se iria agora despir o meu marido e vestir-lhe a roupa de outro morto?!...
- Não... Não minha querida senhora, por amor de Deus. Somos muito mais práticos e eficientes do que isso. Trocaríamos apenas as cabeças...
Torre da Guia
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