Deitou-se, acomodou a cabeça, olhou para o teto e buscou por lembranças dos tempos de marista para afastar a inveja que sentia de Morgana pela amiga ter casado, e ela permanecer solteira. Enquanto pensava, ouvia no silêncio de sua imaginação a voz do quarto animal que clamava: ‘Vem Talita!’ E viu surgir o cavalo esverdeado do apocalipse seis sete. Seu cavaleiro tinha por nome Morte;e a região dos mortos a seguia com outro nome chamado pelos humanos de dengue hemorrágica. Só um mal daquela monta a impediria de ir ao casamento da Morga. O pai gracejava: “ O mal de Talita é dengue. Está dengosa minha menina. Um dia a ciência vai mudar o nome da dengue para MAL DE TALITA CUMI”. Desta vez não riu. Sentia febre, dores musculares e vontade de ficar deitada...
— Amanhã, você receberá alta, disse o médico.
É pena, pensou: “faz dois dias que Morgana se casou! E ela, Talita curtia dengue em leito de hospital. Em seguida, fechou as asas como uma gaivota em voo vertical para erguer-se das águas com um troféu no bico. Relembrou o sarau no sítio de Alice: o garanhão sacudindo o pescoço, roncando atrás de uma égua no cio... Leu Iracema e viu Alencar colocá-la nos braços de Martim: “trêmula e palpitante como tímida perdiz...” É hora da estrela. “Por que não disparar o arco de cupido no coração de um náufrago. Soltar um grito de gaivota, e derrubar as muralhas de Jericó?”
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