A lagartixa atravessa a avenida,
o ciclista que chega vê a cena:
quatro patas ariscas
passam entre pneus.
O imponderável era aquilo.
O ciclista vê ainda
nas costas de uma mulher,
um pavão tatuado,
outro bicho inexplicável,
porque leques coloridos
não entram no metrô.
O ciclista pensa,
lagartixas esquivas,
pavões tatuados,
leques chamativos
quando vibram
provocam maremotos no Japão.
Então o ciclista espirra,
antes de descer à estação
e espera que algo se encante
materialize um sismo na cidade,
mas nada foi assim contundente;
o ciclista viu apenas o impacto,
das cinco da tarde em São Paulo.
DO LIVRO: "A CIDADE POSSÍVEL" |