Jantar de quarta-feira, 21 de Fevereiro: bacalhau-Ã -zé-do-grão - uma primorosa barbatana, duas metades de batata, duas colheres de grão-de-bico, um ovo, tudo regado com azeite com folha de oliveira no fundo da garrafa. Pão tostadinho e maduro branco Porta da Ravessa - e defronte, decorre o Porto-Chelsea sob a égide da Taça dos Campeões Europeus de Futebol.
De um lado Jesualdo, portugueses e estrangeiros; do outro, Mourinho, estrangeiros e portugueses. Neste caso, foi o Porto que deu à luz a essência toda e o "D-mor" faz todo o resto "desportivamente".
Enquanto saboreio os niquinhos de uma coisa e outra que vou comendo e bebendo, cogito interrogante e vejo o jogo ao mesmo tempo: - Quem fez persistentemente tudo isto não estará muito acima e liberto de qualquer explicação que tenha de dar sobre a forma como o fez? Responde o fantasma que tenho da outra banda do corpo: - Ai não, não está acima nem livre de coisíssima alguma. Tem de dar contas claras sobre como o fez e conseguiu.
Golo do Porto, ao 12º. minuto. Raúl Meireles chuta forte, a bola tabela ao de leve num defesa contrário e anicha-se na baliza pelo lado esquerdo fora do alcance de Cech.
Há já largo tempo que a "dourada" arguíção permanece sob o presidente do F.C.Porto. A sua vida particular e íntima tem sido devassada a partir do nariz até aos pés. Só falta abrir-lhe a cabeça para ver o que tem lá dentro
Golo do Chelsea, em cima do minuto 14. Shevchenko remate potente e sesgado, batendo Helton com a bola a roçar-lhe a ponta dos dedos, também pelo lado esquerdo e a entrar rente ao poste. Suspendo o repasto para contemplar Mourinho. A Gana de abrir os braços é a mesma, tal como já esteve do lado cá, finalizando com uma espécie de olé encolhido à guisa de "tomai-lá".
Se hoje um jornal se lembrasse de fazer o resumo completo do "Apito Dourado" desde que o jogo começou, constatar-se-ia que a fumaça geral é tanta que até admira como ainda é possível vermos a bola no ar e a cara uns dos outros.
O Porto-Chelsea acabou empatado. Os entendidos propalam que o Chelsea é menos eficaz a jogar em casa. Se é e da próxima feita for, o F.C.Porto seguirá em frente, psicologicamente imune à s palavras e aos gestos que o querem derrotar no Tribunal de Direito Comum. Pinto da Costa está no banco, na baliza, na defesa, na linha média e ao ataque. Se resistir e vencer ganhará a Taça da Memória Perene que o aguarda para lembrá-lo aos vindouros... De azul-e-branco!...
Pão de Gestos = 1964
Cresce farto e dourado por esses campos o pão e há tanto mal espalhado no gesto de cada mão. Cada mão cada senhor fazendo gestos à gente como se gestos na dor fossem do pão a semente. A semente que germina gesto bom na semeada e transforma cada sina numa cruz menos pesada. Menos pesada que aquela que o povo tem carregado sem saber se será nela um dia crucificado.