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Cronicas-->Dona Doroti -- 19/02/2007 - 19:54 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dona Doroti


Certo dia, na faixa de sombra da minha calçada, vieram dormir dois cachorros feios. Eram dois vira-latas sem identidade, sem origem, sem pedigree, ninguém. Surgiram do nada e ali ficaram. Quando eu chegava ou saía de casa, pedia licença a eles para passar pelo meuportão, interrompendo seu sono de fome que parecia eterno. Os dois formavam uma dupla perfeita, coordenada. Andavam, deitavam e dormiam em dupla. Eram dois amigos sinceros que se fizeram na miséria da rua. Um deles, o cinzento, só tinha um olho -lembrança de uma antiga e feroz briga do passado, de um tempo talvez quando foi jovem e valente. O outro era preto e mancava ligeiramente. Os nomes que achamos apropriados e demos aos dois foram: Pirata e Negão.
Eles dormiam na minha calçada mas gostavam mesmo era da Dona Doroti, a vizinha da casa em frente, que lhes dava comida, água e carinho. Na porta dela sempre se via um prato de comida cheio, ladeado por dois fundos de caixa de leite "tetra", também cheios de água ou leite, deixados ali à disposição deles. Eu, ao contrário, embora conversasse com os dois, não lhes oferecia nada além da minha tolerància. Era pouco. Talvez fosse por isso, e com razão, é que eles gostavam mais da Dona Doroti do que de mim. Da minha janela eu podia vê-los, todas as tardes e manhãs, feito dois Cérberos a guardar a porta dela, esperando pela comida e pelo carinho da sua nova dona adotiva. Aquele trecho de rua, a porta azul, a mulher gorducha e bondosa que morava lá dentro, tornaram-se propriedades suas. Enquanto ela vivesse e demonstrasse que gostava deles, jamais iriam embora.
Ah, que azar!... Um dia aconteceu que a Dona Doroti ficou gravemente doente. A velhinha de cabelos brancos foi levada ao hospital e não voltou mais. Quanto aos dois órfãos, o Pirata e o Negão, sem que ninguém lhes contasse absolutamente nada (talvez pelo fato de que o prato e os fundos de caixa agora estivessem sempre vazios), os dois perceberam que tinham ficado sem ninguém no mundo e se foram para um outro lugar. A tarefa foi difícl para eles. Dias depois, famintos e bem mais magros, os dois foram vistos vagando num bairro distante. Disseram que estavam além da Hípica, numa rua chamada Caminho dos Cajueiros. Os dois amigos de infortúnio continuavam juntos, procuravam talvez por uma nova Dona Doroti -uma mulher que fosse igualmente boa de coração e topasse cuidar deles como a antiga...
Um mês depois, eu e o meu amigo Barriga fomos visitá-los. Estavam recolhidos na Zoonose. Eles me reconheceram, abanaram o rabo e eu senti um aperto na garganta. A Prefeitura exige muitas coisas e não atendemos as exigências para resgatá-los de lá. Voltamos para casa muito tristes, mas certos de que um alma bondoso irá adotá-los. Os homens da Zoonose esperam até dois meses. Torço para que não seja muito tarde e não os separem um do outro. Adeus, Pirata!... Até um dia, Negão!
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