Usina de Letras
Usina de Letras
19 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Jóias, sonhos e bijuterias -- 19/02/2007 - 16:57 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sonhos de bijuterias


A Vila de Água Doce era um lugarejo perdido entre as montanhas negras do Contestado. De um lado ficava Minas Gerais e do outro o Espírito Santo. Meu pai se mudara para lá em busca de terra para plantar, criar os filhos e ficar rico. Mas não conseguiu nenhuma dessas metas ambiciosas. Ao fim de muitos anos não conseguiu a terra que queria para plantar e teve que viver na Vila com os minguados rendimentos de um bar pobre, sem geladeira. Sozinhos, a mais de mil quilómetros dos parentes mais próximos, éramos ao todo oito filhos pequenos pendurados no Juca e na dona Francisca. Estávamos abandonados no mundo de Deus.
Nas proximidades do Natal de 1954, chegou uma carta do tio Pedro. O tio Pedro era o irmão mais novo da minha mãe. A carta vinha de Barra do Piraí,RJ, onde ele morava. Para nós aquela cidade ficava tão longe como a lua -era um lugar distante, como uma cena de sonho. Dona Francisca, minha mãe, abriu o envelope e ficou feliz com as notícias do irmão. Tudo estava bem, o seu pai e a sua mãe mandavam lembranças dizendo que também estavam bem. Fazia dois anos que ela não os via. Ficou feliz e chorou. Depois de enxugar as lágrimas, ela informou aos oito filhos, reunidos e ansiosos em seu redor, que o tio Pedro estava prometendo enviar para o Natal algumas jóias, alguns cordões e relógios de presente para todos nós. Aquele, se chegasse, seria nosso primeiro presente em toda a vida.
Faltavam uns vinte dias para a festa e ficamos muito ansiosos esperando por ele. Cada ónibus que chegava e não trazia a encomenda, era uma frustração para nós. Eu falava para mim mesmo que o tio nem precisava se preocupar em mandar jóias de verdade, ou relógios caros, podia ser tudo bijuteria mesmo, qualquer coisa dourada já estava de bom tamanho.
Então chegou outra carta do tio Pedro. O envelope era magrinho e eu adivinhei pelo peso que não devia ter nada dentro. E não tinha mesmo. Dentro dele tinha apenas outra carta onde ele perguntava se tínhamos recebido as prometidas jóias. Não, não tínhamos recebido nada nem jamais as receberíamos. Os presentes foram extraviados no longo caminho dos Correios até a Vila de Água Doce. Sumiram e nunca mais chegaram. Alguém, de coração duro, deve ter percebido que dentro havia jóias e não nos entregou a esperada correspondência. O malvado ficou com as nossas correntes de ouro e nossos relógios de sonho. Naquele Natal, como sempre, nossos sapatos velhos amanheceram recheados com um simples sabonete Eucalol. O Juca, meu pai, nunca tinha dinheiro para nos dar outra coisa melhor, só dava sabonete Eucalol. A dona Francisca ficou triste e chorou uma cachoeira de lágrimas, mas agradeceu por carta ao seu irmão Pedro a bondade frustrada dele em ter tentado alegrar o Natal dos seus oito meninos.
Eu, por mim, fiquei foi furioso e joguei uma praga. Desejei que o Papai Noel transformasse aquelas jóias em bijuterias, assim eu me vingaria do ladrão malvado que morava nos Correios.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui