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cronicas-->Mayta e a Mecha Loira -- 18/02/2007 - 23:35 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Costumo dizer que as coisas nunca acontecem por acaso. Eu andava na rua a avistei uma mecha de cabelos loiros, um rabo-de-cavalo terminando em linda cabeça dourada. Olhos claros como o céu e um sorriso que deixava a gente atónita. Eu a encontrei assim, como se nunca pudesse acontecer, mas eu a encontrei sorrindo, numa esquina, olhando para mim, sem termos previamente combinado nada. O ar cheio de presságios, as nuvens cinzentas e os dragões empoleirados nas quinas dos prédios, esperando a hora da noite bater em seus peitos sagrados...
--Como vai? Olha quem eu encontro!
--Não é possível! Depois de tantos anos...
--Mas você continua linda como sempre!
--Bondade sua. O tempo vai cobrando suas dívidas...
--Então você está no crédito ainda. Que tem feito da vida?
Fomos ao café, bem próximo ao local da surpresa conjunta. Ela me disse que fora casada até há dois anos, quando soube que seu marido a traía com outra. Deixou o "moleque" a ver navios. O dito cujo a procurava avidamente, mas ela"nem pensar";dizia isso com um sorriso e um olhar tão gostoso que a gente pensava: Como é que alguém assim pode ser traído?Também contara que agora estava mais interessada em cuidar da filhinha de dois anos e da carreira que reengatara, na mídia, como boa publicitária que se tornara. Eu lhe contei da viagem que fizera a Macchu Picchu, passando por dois golpes militares em países diferentes, da maravilhosa visão das montanhas frias e do ar absolutamente limpo da cidade de pedra e de minha falta de ar que me fizera ter o mal das alturas. Pelo menos naquelas alturas os dragões jamais chegavam, eles vinham de profundidades abissais, não suportavam a atmosfera rarefeita das montanhas livres dos Andes. Ela ria, mostrava seus lindos lábios para mim e me perguntava se eu ainda escrevia. Sim, eu disse, continuo tentando, mas enquanto isso, trabalho duro para me manter na vida, esta dura vida de São Paulo. Aproveitei e juntei uma coisa na outra e perguntei você mora perto e ela, já antecipando algo, sim, moro. Entre um gole de café dela e um gole de suco meu, nossos olhos se encontraram e eu juro que vi uma faísca, ou foi um brilho solto e notei que seus olhos tinham diferentes tonalidades de azul, era como se fossem mutantes e ela, preparado para o Natal que vem vindo? Puxa, nem presentes comprei ainda e você? Também não. Lembra de Mayta?
--Aquela argentina?
--A sirigaita que te roubou de mim. A mesma!
--Lembro!
Ela me contou que Mayta, a morena argentina que havia feito uma aposta, e ganhara, agora vivia em seu país de origem e perdera tudo, seus pais a haviam deserdado por conta de suas aventuras sexuais. Ela vivia na penúria, mas finalmente trabalhava agora tentando se manter à tona. Seu sorriso, maroto, se transformara em risada solta:
--Bem feito!
Olhos nos olhos, novamente a maré azul, finalmente ela me olha e me encara e eu lhe pergunto sobre a vida de solteira e ela diz que é boa, mas... Mas o quê? Mas não é completa, e diz isso com as mãos no queixo, um olhar perdido e meio de lado, balançando a perna e mexendo com a colher na xícara que reflete o rubor de sua pele, ela sempre me encanta quando enrubesce, ela sempre me atraiu e eu confesso, não resisto e lhe pergunto se tem volta; ela diz, posso pensar?Há tantos dragões hoje no ar não?E eu argumento, mas eles estão em toda a parte e ela sim, mas já vi um de perto e você já viu? Nunca, mas eu vi e tenho medo, não precisa ter, estamos só eu e você, nesta praça...Pois então, preciso ir... Mas tão cedo já vai, ela sim, preciso pegar a menina na creche, que mãe desnaturada que eu sou, estes dragões todos e eu aqui, revendo um amor do passado, novamente o sorriso, mais olhares compridos, ela se vai e eu ali no café, já meio tonto pela maré que se avizinha, ah meu Deus tudo de novo, garçom me traz a conta, preciso seguir aquela mecha loira, um momento, eu pago e vou atrás e. Sumiu. Lá se foi meu sonho todo. Lá se foram meus últimos dez anos de imaginação e fetiche... Os dragões agitam suas faces luminosas, o bafo quente deles deixa o ar com um peso sulfuroso, eu me recolho à minha pequenez (que majestade aquele de olhos prateados) e sumo na noite atroz.
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