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cronicas-->Elipses -- 18/02/2007 - 23:25 (flavio gimenez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em silêncio acontecem as grandes elipses. No silêncio, na calada da noite, grandes luzes se apagam, acendem-se os lábios de multidões de seres minúsculos, resta-nos aprender a conviver com nossos sonhos, nossos pesadelos. Eles nos povoam de pequenos pedidos, eles nos pressionam com suas vozes sepulcrais, eles vêm e vêem bem mais do que nossa pobre alma pode sequer supor. Eles vêem. No escuro. Eu já me acostumei às suas investidas, às suas bizarrices, aos gemidos que acompanham os casais nos ecos de seus quartos coalhados de roupas de baixo, eles estão a observar do espelho do teto dos motéis habitados por casais dos mais diversos gêneros, eles estão lá, sempre vorazes a sorver a energia que evapora dos corpos suados e nos gritos e gemidos eles fazem coro, nós é que não notamos...
--Que foi?...
--Que foi o quê?...
--Você gritou...
--Pensei que tinha sido você...
Pequenas gargalhadas se fazem ouvir então, não damos a mínima, porque pensamos ser rádios ligados no mínimo, pensamos ser interferência nos celulares, pensamos ser a música que o quarto ao lado ouve para disfarçar o alarido, mas não. São eles, rindo de nossas pequenas misérias, chacoalhando suas pequenas panças amarelas, uivando ao imitar o grito do gozo da amante, são eles e seus pequenos olhos argutos. Tudo é culpa deles, não nossa. Sempre no silêncio da noite, quando todas as gavetas são fechadas, os armários descansam com suas roupas penduradas, as bibliotecas estalam com seus volumes exóticos, as barbearias repousam com seus perfumes estranhos, nessa hora do medo, eles estão lá. Esperando que nos aproximemos um do outro, uns dos outros, eles estão lá, anotando, criticando nossa postura, rindo de nossos peidos secretos, gargalhando com nossos pavores mais recónditos, estes que assomam quando estamos na cama, olhos no teto, a pensar na finitude. Eles escarnecem de nossa mortalidade, de nossos pintos murchos, eles escarnecem de nossas temerárias vidas, de nossos riscos cotidianos, do sabonete que cai de nossa mão. São eles. Eles são os culpados de tudo, eles são assim uma praga.
--Você falou alguma coisa?
--Quem, eu?
--Tenho certeza que ouvi...
--Dorme que o seu mal é sono.
São eles que espicaçam as adolescentes que amassam os travesseiros nas coxas pensando na novela das seis, são eles que embaçam a visão das velhinhas quando elas acordam no escuro para urinar, são eles, são eles que se espraiam nas balaustradas dos prédios antigos com seus hálitos medonhos. Eles são os culpados, eu tenho a certeza disto desde que me tornei um deles.
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