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Cronicas-->Senhor Menino, senhor Natal -- 18/02/2007 - 11:16 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Senhor Menino, senhor Natal

Acredito no Senhor Menino mas não creio nem um pouco no Senhor Natal. O Senhor Menino é um novo recomeço , o Senhor Natal é o começo da gastança, da comilança. Tento explicar os meus motivos e posso ter ou não razão. Meus complexos vêm de longe, do tempo de criança sem presente, sem festa, sem peru. Criança mineira. Eu tomava banhos frios e andava nu, comemorar o quê? Festejar o quê?
Até aos quatorze anos foi assim, a ingenuidade de permeio, a observància que vê as coisas mas não as sente. Depois veio o pior, a lucidez, a maldade dos homens grandes, o Papai Noel de saco vazio. Eu agora era o meu próprio Papai Noel e tinha que ser também o de outras pessoas. Quando cheguei em Barra do Piraí, no ano de 1960, foi que vi a primeira festa de Natal -as luzes brancas das lojas, as sorveterias cheias de gente, o cheiro de baunilha no ar. Eu esperava ganhar um presente que não veio. E era até justo que viesse, pois eu tinha apenas quinze anos e era um caipira das Minas Gerais e jamais ganhara nada. Fui levado a passear em Petrópolis. As Lojas Americanas da cidade eram o máximo naquele tempo. Luzes e cores inundavam meus olhos, a minha alma, tudo. Uma espécie de labirintite juvenil tomava conta de mim. Minha esperança ganhava vida nova, recomeço de menino velho. Mas veio a hora da ceia, de cumprimentar, dar beijos nos amigos -coisa nova para mim-, abraçar os parentes, abrir presentes. O meu, como sempre, mais uma vez não viera.
Alguém, de pilequinho, falso-alegre, perguntou para se mostrar e fazer graça entre os seus: "E o presente do mineirinho, ninguém se lembrou de comprar?" Alguém na outra ponta, também de pilequinho, respondeu: "O mineirinho vai ganhar um presente diferente essa noite, é só ele botar a bunda na janela que o Papai Noel lhe dá uma banana "destamanho"..." E fez o gesto com as mãos, para risogargalhadas de todos os presentes. O patriarca da família, um velhinho de oitenta anos, achou tanta graça na piada que mijou nas calças. Eu não gostei nem um pouco, fiz boca de jabuti -a boca franzida de quem vai chorar. Fingi que não era comigo. Lembro que me levantei e disse:"Já comi um pedaço do bolo e vou dormir..."
Claro, se conseguisse conciliar o sono. A humanidade tinha vivido até aquele dia para me desrespeitar, a ser má comigo, a saber falar coisas que machucam os meninos bobos e de alma tímida, alma embutida. Nunca gostei das luzes nem da festa do Natal. Até os quatorze anos, lá em Minas, elas não aconteciam. Não existiam antes e não fizeram nenhuma falta depois.
Gosto do Senhor Menino, esse turquinho que tentou modificar o mundo, mas não gosto do Senhor Natal, um turcão que só pensa em vender coisas, vestir-se de vermelho para subornar almas tolas, soltar foguetes, dormir e acordar bem tarde, com a cara cheia de vinho, com marcas do pilequinho anterior. Por hoje estou satisfeito, comi o meu pedaço de bolo e já vou dormir. Tenham todos uma boa noite, para sempre. Estes são os votos sinceros do mineirinho.


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