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Artigos-->Data Vênia, Caro Lindolpho Cadermatori -- 09/02/2003 - 20:59 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Data Vênia, Caro Lindolpho Cadermatori

(por Domingos Oliveira Medeiros)



O artigo “Guerra, Paz e Petróleo”, de 08 do mês em curso, de sua lavra, versando sobre a problemática que envolve a guerra que se dará a partir da invasão dos EUA ao Iraque, induzida no título da matéria sob comento, salvo melhor juízo, está calcado em tese que não se sustenta diante da evidência dos fatos.



O que o nobre colega define como meras suposições, em relação aos interesses financeiros dos Estados Unidos na Ásia Central, passando pelas reservas petrolíferas no subsolo afegão, bem como, relativamente às rotas que facilitariam o acesso aos oleodutos e gasodutos existentes na supramencionada região, é preocupação, de fato, das grandes potências, e alguns de seus aliados, principalmente os da Europa, desde que as repúblicas socialistas soviéticas deixaram de compor a antiga URSS, hoje, reduzida, tão-somente, à Rússia.



Tudo, fartamente elucidado pela imprensa mundial, em razão de pressões por parte das grandes ocidentais, encabeçadas pelos EUA, no vigoroso combate aos países praticantes de regimes, aqui sim, cabe dizer, (supostamente) prejudiciais aos interesses e ditames estratégicos do ocidente.



Mas este não é, no meu modo de ver, a parte mais significativa da questão. Seria um pequeno pormenor, muito embora, vale o registro, de que faltou ao nobre colega apresentar a fonte das informações que utilizou, a título de requisito de prova para o que tentou afirmar com riqueza de detalhes. Do contrário, fica-se o dito pelo não dito. Até porque, mais adiante, o colega se contradiz, de certa forma, ao dizer que “Caso as referências aludam ao “interesse financeiro” das corporações norte-americanas em explorar as reservas petrolíferas iraquianas” e, também, ao afirmar, referindo-se aos contratos que teriam sido acordados, entre outros, com os Estados Unidos, de que Washington “já assegurou que, na eventualidade de uma guerra, entre os contratos entre o Iraque e terceiros países serão respeitados e mantidos”.



Do até aqui exposto, algumas dúvidas restaram. Não está claro em que ocasião esta “garantia” foi concedida ao Iraque. Entretanto, e se foi à época do presidente que antecedeu Bush, a garantia está vencida. Se na época de Bush, a garantia não faz sentido. Pois ninguém, que goze de bom senso, pode oferecer ao país que pretende invadir, garantias de qualquer ordem, muito menos econômica.



Depois, não vejo como possa os EUA interpor-se à liberdade e ao critério da livre iniciativa, para fechar contratos envolvendo empresas estrangeiras. Seria muita pretensão.. Mesmo em se tratando da potência que representa a nação americana. O governo Bush, aliás, já deu provas, mais do que suficientes, de que não costuma respeitar as leis e os acordos internacionais.



A bem da verdade, o que existe de concreto é que, em 1990, quando o Iraque invadiu o Kuweit, a primeira reação da ONU foi decretar um embargo comercial contra o Iraque, proibindo-o de exportar qualquer tipo de mercadoria. Depois, o Conselho da ONU, do qual faz parte os EUA, aprovou resolução autorizando a comunidade internacional a atacar aquele país. Fato que veio a ocorrer em janeiro de 1991, de cujo embate o Iraque se viu derrotado. O país foi arrasado, teve sua produção petrolífera prejudicada, e as sanções econômicas a ele impostas foram prorrogadas. A idéia, à época, era parecida com a de hoje: instalar o caos e provocar a revolta da população.



Quanto à preocupação exposta, de que “uma ação deliberada e inconseqüente por parte do governo norte-americano, (...) encerraria por deflagrar (mais) uma crise nas relações diplomáticas entre Estados Unidos e a China”, onde você inclui a Rússia e o Japão, não há como deixar de enfatizar que esta preocupação é de todo improcedente. A China, a Rússia, e também a França, que têm poder de veto junto ao Conselho da ONU, ao contrário do que afirma o nobre colega, já se manifestaram contrários à invasão ao Iraque, pretendidas por Bush, que se vale do seu poderio bélico como instrumento de convencimento, pouco diplomático, convenhamos, para o trato de questões internacionais que interessam ao mundo inteiro.



Quanto ao pressuposto aventado, de que, a prevalecer a retórica de que a guerra estaria sendo fomentada por razões financeiras, Sadam Hussein não ofereceria perigo ao “precário equilíbrio regional”, a premissa é de toda falsa. Mais de dez anos da ocorrência da Guerra do Golfo já se passaram, e não vimos o Iraque oferecer preocupação ao mundo, pelo menos na proporção que pretende emprestar ao assunto o governante dos EUA.



Os fatos desmentem o supracitado pressuposto. Ao contrário, no caso do Afeganistão, por exemplo, o perigo foi iminente. E a questão mal conduzida. No caso da Coréia do Norte, que retomou seus experimentos atômicos, não há informações sobre invasão. E o próprio conflito entre israelenses e palestinos, que permanece incentivando o ódio e fazendo vítimas, sob o olhar complacente dos EUA, parece não incomodar ninguém. Dois pesos e duas medidas?



De outra parte, o amigo não foi feliz ao tentar minimizar a desgastada imagem de Bush, ao comparar sua credibilidade de “estadista não virtuoso”, com a do tirano Sadam Hussein, nem os EUA com o Iraque.



Posso até concordar com a tese, mas com ressalvas. Primeiro, porque a comparação entre os titulares daquelas nações em nada aproveita a tese que o ilustre companheiro desenvolveu. Eu diria que a questão poderia, quando muito, restringir-se a conclusão do “mal menor”, que, no caso, seria o Bush. Sendo ele o titular da grande potência ocidental, exemplo de democracia e de luta pela paz e pela justiça social, Bush não vem correspondendo ao que se era de esperar em relação aos critérios de observância das leis, de respeito às instituições organizadas e à soberania das nações. Para Bush, tudo indica, os meios justificam os fins. Que, também tudo indica, são, quase sempre, de caráter meramente econômico.



O papelão de Colin Powel, exibindo material que comprometeria o Iraque, na tentativa de angaria aliados para a aprovação desta guerra, inventada por Bush, não deixa dúvidas de que o vale tudo tomou conta das ações do atual governo americano. Que não mede esforços para tentar justificar o injustificável: invadir um país, sem que tenha sido molestado por ele, sem esgotar todas as vias diplomáticas, sem observância das leis internacionais, e, até mesmo, sem critérios éticos ou morais. O famoso dossiê, apresentado pelo secretário, que comprometeria o Iraque, não convenceu o mundo.



E a explicação é simples. As fotos, gravações,e todo o material que foi apresentado, não produziram o que os juristas chamam de “fato criminoso”. Um relatório cheio de furos, como li em reportagem de um jornal local: “”Fotos de satélites podem ter várias interpretações, dependendo do ângulo. Principalmente quando só mostram de longe movimentação de veículos ou homens, e não a “cara” das armas. As conversas gravadas estão bem audíveis, mas não identificam os interlocutores, nem são datadas. Poderiam ter sido feitas logo após a Guerra do Golfo, na época das primeiras inspeções, quando os Estados Unidos enviaram a Bagdá agentes da CIA disfarçados de técnicos da ONU”.



Outro ponto de seu artigo que me chamou bastante atenção: “A ameaça que o Iraque representa para a região, somada à sua clara intenção de não se desarmar, apresentam os elementos necessários à condução de uma campanha militar por parte dos EUA – e quem mais se juntar à coalizão – com vistas à deposição de Saddam Hussein.”.



Não podemos esquecer que o cenário da provável guerra está numa região bem explosiva e já bastante conturbada por interesses divergentes, de ordem econômica, política e religiosa. Entre o Iraque e o Afeganistão, está o Irã, seu eterno rival; mais abaixo do Afeganistão, o Paquistão, seguido da Índia, detentores do domínio da tecnologia atômica, e rivais entre si. À esquerda do Irã, a Arábia Saudita, país em plena decadência. Sua renda per capita , que já foi comparável à da Bélgica, caiu 60%. Além disso, na condição de maior produtor de petróleo do mundo, registrou, em 2002, um déficit de US$ 12 bilhões, e uma dívida acumulada de 102% do PIB. Não é por outra razão que este país vem dando apoio às pretensões de Bush. De olho, certamente, na ajuda financeira.



Enquanto Clinton praticou a chamada “guerra limpa”, em que só morria gente do lado adversário, o presidente Bush adota a guerra suja, nos moldes daquela realizada no Afeganistão, quando morreu gente de ambos os lados, civis inocentes, velhos e crianças, sem que, ao final, nada de positivo tenhamos alcançado. O pivô da guerra, Bin Laden, o líder terrorista, acusado sem provas, diga-se de passagem, continua solto. E ninguém, a rigor, garante que o caso Afeganistão esteja encerrado.



E no Jornal do Brasil, edição de 07 de fevereiro, página A5, duas preciosidades ditas por Bush, referindo-se à invasão do Iraque: “ os acontecimentos não correspondem ao acaso, mas a uma vontade de Deus”e “Esta é uma nação que reza. Eu acredito na oração, rezo para pedir sabedoria e para agradecer”.



Resta saber para que Deus ela reza: o do mundo ocidental ou o dos muçulmanos que, salvo melhor juízo, é o mesmo. E, com certeza, não tomará partido nesta guerra. Deixará que o livre arbítrio, concedido a cada um dos presidentes, possa revolver a pendência.



Afigura-se-me pertinente, à esta altura, reproduzir algumas citações de reforço à minha réplica. Estou com Chirac quando ele disse que “A guerra é sempre a pior solução”. Também, com François Zabbal, pesquisador francês, de origem libanesa, editor da revista Qantana, editada pelo Instituto do Mundo Árabe,em Paris, em entrevista concedida ao Correio Braziliense, edição deste domingo, 09 de fevereiro: “Existe uma enorme hipocrisia por parte dos países ricos. Eles pregam discursos sobre a modernização dos sistemas políticos nos países pobres e sustentam os piores regimes no mundo para defender seus próprios interesses. Antes de usar a força para democratizar um país, eles precisam para de depositar milhões de dólares nas contas que alimentam estes sistemas políticos obscuros.”.





E, por fim, concordo com sociólogo Emir Sader: “Temos que afirmar nossos projetos de mudança nesse cenário, construindo nossos próprios espaços de crescimento interno e externo. Lutar intransigentemente para que a guerra não aconteça. Mas se ela vier, com as destruições, mortes e sofrimentos que anunciam, fazer pagar o preço mais caro, moral e politicamente, a seus responsáveis e avançar n a construção de um Brasil da esperança contra o medo, com um projeto que não reaja simplesmente aos acenos do mercado e da guerra, mas faça das crises alavancas para um país soberano, justo e pacífico.”



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