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cronicas-->A ira dos anjos caídos -- 16/02/2007 - 19:46 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Conforme explicações do geógrafo e professor da USP, Rogério Haesbaert da Costa, o fenómeno da desterritorialização e a incapacidade humana em resolver questões de inclusão económica, educacional e política na sociedade (ou sociedades) nos faz refletir complicações que pouco saem do consenso elitista dos acadêmicos de plantão. Durante um programa exibido na TV Cultura de São Paulo (13/02/07), fiquei aturdido (Haesbaert era o conferencista convidado) com minha incapacidade de ação perante a posição de "produtor-conhecimento". Verdadeiramente, não estamos fazendo absolutamente nada. Uma coisa é teorizar a pobreza, outra, é tentar amenizá-la dentro das nossas limitações individuais. A configuração do espaço (ou noção de território) através dos `abismos´ sociais existentes, vem ocasionando atos de flagelamento nas relações humanas, desqualificando qualquer possibilidade de luta pelo bem-estar de um ser. Já não existem territórios inclusivos...



A violência cotidiana está - cada vez mais, em proporções assustadoras - transformando o território da convivência em utopia. Agora, humanos são diferenciados por categorias de importància: determinadas mortes são consequências naturais. Não se fala sobre isso, apenas deixa-se morrer. Nessa categoria, pedintes, mendigos e desempregados sufocados pela incerteza. Esses dias, andando por uma das avenidas mais movimentadas de Natal (Rio Grande do Norte), próximo a um semáforo, um menino (extremamente anêmico) dormia quase em estado de coma na calçada principal. Alguns motoristas de táxi das proximidades riam da cena. Provavelmente eram pais de família, mas numa reação fascista festejavam - conscientes ou não - o infortúnio de uma criança que jazia pelo consumo suicida da cola de sapateiro. Dentro da minha fortaleza? Tudo bem, o resto que se dane. Não precisa ser rico para segregar. Numa distància de trinta metros, um deficiente físico, senhor de uns cinquenta anos, mal ergue a mão para pedir esmola. Está visivelmente subnutrido. Totalizo oitenta centavos na carteira, claro, é uma miséria. Tenho vergonha desse ato.



Venho acompanhando os noticiários: um menino de seis anos é arrastado por um carro durante o roubo do veículo. O crime é inqualificável, hediondo. Os pais fazem um apelo em cadeia nacional (meu Deus, quem não faria?), o estado torna-se ambíguo nas suas declarações públicas. Acham que existe "comoção social" no país. Existe? Não. No início da década de 1990, um grupo de crianças e jovens foram executados a tiros defronte a igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. Onde estavam seus pais para tornar público aquele ato de barbárie? Exato, eram crianças de rua, isso acontece todos os dias nas periferias inchadas das metrópoles brasileiras. Aqui mesmo em Natal, seis jovens foram mortos num período inferior de três semanas na periferia. O motivo? Um deles havia denunciado práticas de tortura por parte de policiais locais. O que foi feito? Nada. Apenas alguns periódicos impressos noticiaram o ocorrido. Tive oportunidade de ler sobre isso quando cheguei na cidade, no início do ano.



Já dizia um pensador: "Se não educarmos os homens hoje, amanhã teremos de castigá-los". Castigamos com ódio. Dentro da sua comunidade (onde não existe Estado) ou território-rede (um presídio, unidade da Febem), o canibalismo cultiva um ódio imensurável nos invisíveis. Pessoas excluídas de qualquer possibilidade humana, digna. A criança que faz malabarismo na faixa de pedestres (você já a viu) está desesperada por uma chance. Esse desespero, mais cedo ou mais tarde, vai se transformar em ódio. Esse ódio acumulado pode transbordar como uma enchente nos condomínios de classe média. Não adianta um apresentador de telejornal estilo William Boner representar hipócrita e sordidamente o juiz da indignação nacional, levando o espectador a absorver discursos "emotivos" de última hora. Aliás, esse discurso emotivo é passageiro. O ato de ódio e covardia que os pais do menino enfrentam pela perda do mesmo é isolado. Só é sentido na própria pele. Não irá passar. Tampouco o ódio de quem não é visto em vida. Ou seja, milhares de brasileiros...



Então, de quem é a culpa? Somos todos exterminadores de nós mesmos?





Paulo Milhomens


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