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Teses_Monologos-->Festejar Vinícius? -- 22/10/2003 - 00:59 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
E não o fazemos todos os dias? Na fala, no canto, na tentativa do exercício de uma cidadania brasileira?

Vinícius, os prazeres da sua influência. E não só nós, brasileiros, vivemos a festejá-lo. A bossa-nova ainda produz seus frutos. "Garota de Ipanema" está entre as músicas mais executadas no planeta. "Orfeu do Carnaval", Palma de Ouro e Oscar em 58, agora em DVD, continua sendo obra-prima obrigatória. A poesia de Vinícius ainda embala nossos ideais de beleza, amor e paz, coisas que o país oficial não vai conseguir apagar tão facilmente dos nossos sonhos de aspirantes a cidadãos brasileiros, que é o que todos ainda somos.

Poetinha? Talvez seja a mais bela homenagem, a que faz justiça a seu percurso. Eu já peguei essa história correndo solta. Quando dei por mim, já os adolescentes da minha geração sonhavam, construíam seus romances, suas vidas ao som de Vinícius. De repente, já me vi sabedor de alguns sonetos e canções. Não mais que de repente, me vi à caça de suas palavras, tão novas, nos afro-sambas que compôs com Baden.

Nos 70, o Circuito Universitário trouxe até nós, interioranos, um Vinícius que virara grife de sucesso: Toquinho & Vinícius. E que empáfia a nossa, querer encostar o poetinha na parede, porque o que eles faziam era diluição, vendendo como água de coco. E o engajamento político? Ah, tinha ido parar na tonga da mironga do cabuletê. Engatinhávamos, sem perícia, por questões de política e de estética.

Mas, no debate com os estudantes ou no palco do show, Vinícius estava lá, impávido, segurando pelo gargalo o "melhor amigo do homem, o cachorro engarrafado", a debochar de tudo e de todos, dono de seu talento e ciente de sua incrível experiência humana.

E foi essa a imagem que ficou desse que preferiu deixar de ser poeta (alguns dos melhores sonetos da língua portuguesa) para ser poetinha, parceiro de sambistas, criador de letras fundantes da bossa-nova, autor de peças teatrais inovadoras como "Orfeu da Conceição" (na montagem, um elenco só de negros e algumas das nossas melhores cabeças criativas à esquerda; cenário desenhado por Niemeyer).

Se alguém quer saber mais sobre seu teatro, uma leitura indispensável: "Teatro em Versos", organizado e apresentado por Carlos Augusto Calil (Cia. das Letras, 1995). Além das cinco peças, farta documentação textual e iconográfica.
Alguém me pediu um texto sobre Vinícius, sugerindo "O operário em construção". Informação adicional: o poeta teria traduzido, em tempos de militância, a biografia de Stálin. Os sites de busca não me ajudaram e o acaso me levou ao seu teatro, mesmo porque não haveria tempo para obras completas.

Mas não duvido de que o longo poema engajado pudesse produzir em mim a mesma prazerosa inquietação que se respira em "Orfeu da Conceição".

Do soneto "São demais os perigos desta vida" a canções seminais como "Se todos fossem iguais a você", tudo em "Orfeu" é uma lufada de ar puro. Sem o lirismo desse que deve permanecer como um dos nossos maiores, transportar a tragédia grega para os morros cariocas não teria passado de panfletagem.

Em seu engajamento peculiar, que eu preferiria chamar de existencial, Vinícius não deixou de encarar os perigos desta vida, suas paixões e prazeres, como também não se furtou a sacrifícios e alterações de rota, quando se tratava de dar forma à nossa identidade e, sobretudo, ser o que sempre se considerou antes de tudo: poeta.

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[Publicado em www.tribunaimpressa.com.br, jornal Tribuna Impressa de Araraquara, coluna Oxouzine, que assino às quartas-feiras, em 22/10/03.]
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