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cronicas-->ELISA, QUE DESLUMBRAMENTO! -- 10/02/2007 - 00:48 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ELISA, QUE DESLUMBRAMENTO!


Francisco Miguel de Moura*

Chico tinha tido uma única oportunidade de ver mulher nua. Não importa. Talvez não fosse a verdade, já vira mais de uma, porém sem interesse. Não importa. Faltava-lhe algo que o mundo ofereceria dentro em breve: cores mais fortes, palavras sonoras e vibrantes, sensibilidade à flor da pele. Tudo isto chegara com Elisa, menina-moça, vizinha e amiga de D. Zefa, no Angico Branco de cima. Ela marcou a vida do menino Chico, no despontar da ameaçadora adolescência.
Naquela manhã, a força do sexo despontara. Teve um deslumbramento singular. Tão forte que não lhe ficou com tamanha intensidade pela vida em fora.
Que a infància mesma é um celeiro de sonho e magia, quem não sabe? Mas dura pouco e daí é tão diferente! Quando os hormónios brotam parece que o sol brilha mais, sem ofuscar os olhos; e a chuva, caindo no telhado, se entranha no corpo e provoca arrepios. Os cabelos, os seios, as saias, os decotes... O tempo urge. É o desconhecido e sua chegada instantànea: perplexidades, mas também falta de preconceitos; humildade diante das pessoas, dos acontecimentos e das coisas; ideais e pressa de encontrar-se. O sexo traz consigo a força do homem e da mulher nascentes para construir a personalidade, o destino, suas dores, agonias e prazeres. Ávida, a carne quer repartir-se com generosidade. As delícias do corpo preparam o espírito para a recepção da vida em todos os sentidos: da criação de novas imagens e de novos alentos à fé, ao amor, à esperança - o perfume das artes e da beleza.
Elisa! Diziam que era maluca. Hoje o adjetivo seria "maluquete", para ser mais gostoso e menos depreciativo. Não. Hoje o menino sabe que ela tinha mais juízo do que as outras. Namorada do Paulo, que morava por ali mesmo, do outro lado do baixão do Angico Branco, isto não interessava ao menino. Queria vê-la todo dia, no seu vestido que anunciava as protuberàncias nascentes: seio e bumbum. Sobretudo queria vê-la falar e rir, estar perto, e mais. Elisa às vezes dormia na casa de D.Zefa, pois Mestre Miguel viajava muito e a mãe do menino era muito medrosa. Pedia à moça e ela prontamente vinha. No fogo da adolescência, qualquer coisa assim como seus quinze anos, Elisa era toda movimento e alegria. Dança era seu modo de andar; morena, sua cor; cabelo escuro, a escorrer pelo pescoço e ombros; sobrancelhas largas, olhos grandes; corpo bem feito, cintura de violão. Bonita? Nem tanto. Mas formosa, isto sim, pois tinha boas formas.
Naquela manhã, depois de uma noite de desassossego, seu vestido de chita, curto demais para o tempo, alegrava mais os olhos, dançando no corpo, visto que o conservava solto.
Dormiam todos em redes, no mesmo quarto.
Noite sem lua, de luzes apagadas, que lhe acendia o fogo, numa pressa devoradora. Elisa busca a rede do menino. Ele, depois de grande, ainda se arrepia só de imaginar. A inocência era tanta, tinha apenas dez anos, que gritou pela mãe, mais por medo de que sua rede se rasgasse ou a corda do armador partisse. A moça era um pouco gordinha e alta.
- Mãe, Elisa está na minha rede. Mãe, Elisa está aqui.
- Cale a boca, meu filho, deixe a mamãe dormir.
Pensou que fosse invenção do menino.
- É mentira, D. Zefinha. Veja como eu estou aqui? - disse e voltou, na ponta dos pés, pra sua rede.
A mãe risca o fósforo e constata.
Com um minuto de nada, ele grita outra vez:
- Mãe, Elisa está na minha rede Acenda a luz.
O quarto era pequeno, as redes muito próximas, D. Zefa apenas estendeu o braço e verificou que a moça não estava na rede do filho.
- Cadê, Chico? Você está sonhando.
Elisa ainda veio outra vez mexer com ele. O menino não teve coragem de dizer o que a mão dela tateava. A mãe não acreditaria mesmo.
O jeito que tinha era calar-se.
Daí a pouco o sono pegaria todos até o amanhecer.
Nas noites seguintes, a mesma tentação da moça se repetia. Chico já não alertava mais a mãe, que estava confiante na maluquinha da Elisa.
Antes, os colegas do menino - o mudo, o irmão de Paulo e outros - já o haviam iniciado em jogos eróticos, por gestos ou palavras; mostravam desenhos de conjunção carnal entre homem e mulher; riscavam membros e vulvas nas paredes, com carvão, em formas bastante grosseiras. Entretanto, preferia ver aquilo como brinquedo, sem maldade. Embora... a partir de então já experimentasse excitações próximas do onanismo.
Naquela manhã, enquanto todos estavam de cócoras, à beira do fogo - Elisa, o menino, as irmãs e Jerusa, filha da tia Rosa, que passava uns dias com a madrinha - a mamãe fazia o café e preparava os beijus. Mas teve que ir lá dentro pegar a rapadura, quando tomou um susto de grito de Jerusa:
- Chega, madrinha, a Elisa levantou a saia. Feche os olhos do menino.
Não deu tempo pra nada. Os olhos de Chiquinho, ao invés, se arregalaram de uma vez. Foi o seu primeiro deslumbramento.
- Você está maluca? - ralhou, zangada, D. Zefa.
A moça estava sem calça. Chico viu tudo. As figuras mal feitas e os sonhos de criança pré-adolescente voaram pro ar: estivera diante da verdade. Elisa nua, linda, linda. A visão desejada e aterradora da primeira mulher nua como nasceu acontecera ali, e porque ela quis.
Que manhã brilhante! Hoje, nem sequer mais pensar naquilo; inevitavelmente sentirá calafrios, e uma indescritível saudade misturada com tristezas e alegrias.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, PI. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br
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