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Contos-->ALUCINAÇÃO - 2 -- 13/01/2013 - 00:01 (GIVALDO ZEFERINO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Sara era a esposa de Samuel. Conheceram-se no pátio da Universidade, durante o intervalo das aulas. Admirava a bela silhueta que se dirigia ao primeiro andar, e nem escutou a campainha anunciando o início da próxima aula. Sentado em um banco, aguardou o regresso da moça que logo reapareceu na escadaria. Ele aproximou-se.
- Achei por bem interrompê-la para poder admirá-la mais de perto. Sinto que você é a mulher que eu espero há muito tempo. Não poderá mais fugir de mim.
- E por que haveria eu de fugir de você?
- Por isso mesmo. Não há motivo. Serei até capaz de me casar com você.
- Será?
- Claro! Se você também quiser.
- Ah!... E se eu não aceitá-lo como marido?
- Não casarei mais com ninguém, e viverei só para adorá-la.
Ela riu gostosamente.
- Obrigada pela gentileza, mas...
- Meu nome é Samuel, faço direito, tenho vinte anos, gosto de dançar, divertir-me e pousar ao lado de uma bela mulher como a que vejo agora na minha frente.
Sara achou espirituoso seu modo extravagante de se apresentar, e assim também se apresentou:
- Meu nome é Sara, estou me preparando para o vestibular de medicina, tenho dezoito anos, gosto de homens inteligentes, interessantes e... discretos.
- A indiscrição é, às vezes, uma virtude.
Aquele célere colóquio suscitou mútua simpatia e, alegremente, se despediram, com a promessa de se reencontrarem noutro dia qualquer.
Samuel ficou a filosofar:

Esta bela desconhecida
eu a conheço, eu a conheço.
Depois de tantos mil anos,
Ei-la de volta para mim.

Transcorridos dois anos de casados, Sara engravidou. Era um sonho que ela acalentava havia muito tempo, mas protelava sempre, por causa da vida atarefada que, tanto ela quanto Samuel vinham enfrentando. Agora, estavam felizes e abobalhados com a novidade. Sara não parava de sonhar embalando o bebê, amamentando-o, trocando suas fraldas... Era uma loucura quase infantil. Diariamente, os dois debatiam sobre o nome que lhe seria dado, e registravam uma lista de nomes em um caderno, à medida que a barriga de Sara crescia, abrindo espaço para o bebê se movimentar e desenvolver-se.

Faltando, porém, uma semana para completar o quarto mês de gestação, Sara abortou. Um grito desesperado brotou dos seus lábios quando viu a criaturinha indefesa sendo expulsa do seu ventre, sem condições de fazê-la regressar, malgrado o esforço sobrenatural que fez para detê-la na saída, empurrando-a com as mãos para dentro de si. Seguiram-se dias inconsoláveis, momentos de tensão, angústia e sofrimento, a contemplar, com tristeza, o berço repleto de roupinhas e brinquedos comprados para a pequena Angélica. Esmiuçava peça por peça, com a ilusão de que sua filha ainda estava com ela, em seu ventre.
Agradáveis ou desconcertantes, os eventos que nos atingem são efêmeros, mas, às vezes, deixam marcas profundas tendentes a se prolongar e a machucar os ânimos das pessoas. Tudo depende do grau de reação do ser atingido. Como uma correnteza, a vida prossegue e aponta, a cada instante, o cenário de uma nova etapa. Temos de avançar, passo a passo, com essa correnteza, sob o risco de perdermos o controle dos acontecimentos. Nem Sara nem Samuel podiam dar-se ao luxo de parar, chorando a perda da criança abortada, porque a correnteza exigia mais atenção ao novo que surgia no horizonte.

Augusto e Cândida, um casal amigo, foram visitar Samuel. Cândida consolava Sara que descobrira como era agradável trocar ideias com aquela mulher que sempre inventava um jeito de superar os embaraços da vida. Nascida e criada na pobreza, não tinha nada a cobrar dos pais que se sacrificavam arduamente pelo sustento de seus oito filhos, os quais frequentaram a escola,
formaram-se, cada um alcançou seu objetivo, numa posição mais favorável e menos limitada. Cândida era funcionária pública quando conheceu Augusto. Transformara-se numa mulher madura que não se dobrava perante as dificuldades. Sabia, por experiência própria, atacar de frente as situações adversas; não conhecia o significado das palavras Acomodação, nem Desespero. Na infância, quando não havia o que comer, seu pai desempregado, todos faziam alguma coisa para superar essa fase difícil. A mãe lavava roupa dos outros para ganhar algum dinheiro; os filhos, uns iam cuidar da cozinha dos vizinhos ou parentes abastados; outros, ajudar o pedreiro ao lado, ou catar no lixo, essas coisas que são vendidas por quilo. Ninguém tinha o direito de cruzar os braços. Ação, Reação, Superação: eis o seu lema. A riqueza extraordinária que habitava no seu interior magnetizara o coração de Sara, e consolidara o elo de afeição entre elas.
Enquanto as mulheres se desafogavam no quarto do apartamento, Augusto conversava com Samuel sobre o convite que recebera da empresa onde trabalhava para chefiar a filial que seria inaugurada em Paris. A diretoria lhe dera um prazo de trinta dias para se pronunciar sobre a proposta, e lhe oferecia um salário bem mais polpudo, além da ajuda de custo. Estava indeciso. Samuel evidenciou-lhe a grande oportunidade para se autopromover, uma chance ímpar que não poderia ser jogada fora, sem mais nem menos.

Na quinzena imediata, Augusto preparava-se com a família para viajar e fixar residência em Paris. Antes, porém, fizera um convite ao casal para que fosse passar suas próximas férias na capital francesa, em sua casa.
- Au revoir, mon ami! Desejamos-lhe muito sucesso em Paris. - proferiu Samuel, cerimoniosamente, na despedida.
- Espero você por lá, disse Augusto.
- Vamos contar os dias. Nas próximas férias, conheceremos juntos, a torre Eiffel.


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