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Contos-->NO FARO DA ONÇA... -- 09/01/2013 - 16:26 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Cachorro Graudez latiu longe encomendando tatu. Zenofre ralhou e seguiram marcha. Mais adiante, o vaqueiro parou. Tirou o chapéu, beijou o escapulário de Nossa Senhora do Carmo e se benzeu.

Os cachorros acuaram bicho no mato.

Agora se espalhem de dois em dois — disse Zenofre — O rapaz da cidade fica comigo. João Velho pode seguir sozinho ou fazer uma trempe com mais dois. Todo mundo amontado. É preciso varrer esse sovaco de serra pisando miúdo, passando pente fino.

O tempo ainda estava turvo, quando avistaram  um vulto na copa de uma árvore.

  —Não desmonte, disse Zenofre, a onça está acuada.

Esperou um pouco, sempre de olho em um pau-preto, cujos galhos se moviam sem vento. O sol levantava  lentamente trazendo o lusco-fusco da primeira aurora. O destemido vaqueiro desceu da montaria. Graudez não latiu. Abanava o rabo e lambia os pés do dono. Cachorro Ninguém ladrava desesperadamente, os outros respondiam longe. Zenofre largou a cravina no chão. Amarrou a lanterna na copa do chapéu de couro, prendeu na boca um cutelo e em volta da cintura atou uma corda de laçar boi. Adilson Júnior manobrou a carabina de dez tiros e fez mira para disparar no pau-preto que se movia.

—Não atire!  O latido não acusa onça.

Zenofre subiu na árvore e no emaranhado da copa deparou-se com uma figura simiesca, semelhante a um macaco albino. O bicho grunhia como os espíritos que rondam a noite na selva. O vaqueiro aproximou-se, jogou lanço certeiro. Prendeu o  animal com a grossa corda. Puxou devagar, sempre dando volta, tecendo uma teia entorno do ser tão semelhante ao humano. Aos poucos foi dominando a fera e já no chão, por um descuido dele, a selvagem mordeu-lhe a panturrilha. Os cães avançaram para estraçalhar a caça. Zenofre repreendeu todos eles e Graudez veio lamber a ferida onde a índia cravara os dentes. Ela balbuciou algumas palavras em língua  que ele não conhecia: “Xambioá...Xambioá... Xambioá...Apinajé.” E o vaqueiro perdeu o faro da onça.

 Adilson Júnior sujou as calças.

—Esse bicho fedendo demais, seu Zenofre! Disse o rapaz da cidade.

—O bicho cheira a caça do mato, respondeu o outro.

Vaqueiro Zenofre uniu as mãos fechadas em concha e soprou entre os polegares. O borá quebrou o silêncio da mata percorrendo um raio de meio quarto de légua. Alguns caçadores responderam com um assobio fino: Fííííu...fííííu... João Velho mostrava ânimo, mas não chegou a tempo dos primeiros nós. Piruruca perdeu o ritmo da cavalgadura, a tralha e a vareta de açoitar cavalos. Os outros, cada um trazia seu quinhão de medo ofuscado na lanterna acesa, pois a madrugada já tomava vestes de noiva, alvorecendo devagar no canto da passarada. Caburé soltou canto assombroso apregoando morte. Raposa apareceu no lugar da caça, é mau sinal.

—Alguém viu Joselino? Quis saber Zenofre.

O parceiro de Joselino era Piruruca, gente vinda do Curral de Dentro com o juízo de fora. Piruruca tinha perdido a tralha, tudo que levava e se desgarrado do companheiro.

Ninguém viu Joselino.

Esperaram um quarto de hora, assobiaram,gritaram o nome dele, cruzaram focos de lanterna no céu, tudo sem valia. Fizeram o que podiam. E nada do vaqueiro Joselino aparecer ou dar ares de vida. Voltaram sem o companheiro. Mais tarde, haveria algum camarada descansado, refazer a trilha e encontrar o vaqueiro deixado para trás.

Espiados por um olho de sol coado entre os galhos da mata, romperam caminho de volta e horas depois, cavalos e cavaleiros riscaram o pé da cancela na sede da fazenda, visivelmente cansados, ansiosos e de boca seca.

ficando maluco, homem de Deus! Essa é a onça que comeu o bezerro da Mimosa?

—Se comeu, não sei. Mas é uma índia ‘fema’.

— O bicho fala?

—Prezei. Ela dixe. “Xambioá, Xambioá... Apinajé...

A índia, provavelmente, era da tribo Apinajé e tinha uma ferida debaixo do peito de onde escorria uma resina semelhante à mucilagem da babosa; gosmentae brilhante como o rastro deixado pela lesma. Taturana, concluiu Cláudio. Taturana queimou o peito da índia.

— Corina, chegue aqui! Traga uma roupa sua, das mais velhas, para cobrir este animal.

—Nossa! O cheiro é bom, a mulher, feia.

—Que vamos fazer com essa coisa, seu Cláudio?

—Amarre na casinha de curral. Na sombra, presa só pelas mãos, com corda comprida. Dê água e comida. Ela é sua. Quem amansa burro bravo, haverá de domar também esta fera. Se com trinta dias não entregar os beiços, solte e deixe ir embora.

http://www.textoregistrado.com.br/exibetexto.php?cod=135897704703377000&cat=textoreg

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