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Contos-->O COMPADRE GAGO -- 02/01/2013 - 19:07 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Morei em Caxias do Maranhão de 1983 a 88, na rua do Cisco que, na verdade,  era uma das mais limpas. Em sua continuação, logo após a praça Vespasiano Ramos, o filho mais famoso depois de Gonçalves Dias, ficava a rua direita que era torta e dava na Br., saída para Teresina ou em sentido contrário, para São Luís.

Defronte a minha casa ficava o Plaza Hotel, aquele que, quando solteiro, fui hóspede durante mais de um ano. Naquela época, Antônio  trabalhava como vigia. Ele,  dois ou três anos mais novo do que eu e recém casado. Algum tempo depois de conhecê-lo, também me casei e minha filha mais velha  já tinha uns três anos, falava com desembaraço e lia algumas frases curtas e ou palavras soltas, quando, aquele conhecido de alguns anos, me deixou sensivelmente emocionado:

— Quero falar uma coisa com o Sr., mas estou com vergonha.

— Podes falar, Antônio! Somos amigos há tanto tempo, não tem porque se envergonhar.

— Quero que o Sr. Batize minha filha. Ela se chama Kaaatren Suzi.

— Será um prazer, compadre. E estendi-lhe a mão.

Desde a primeira vez que Antônio se me aproximou, para conversar dei-lhe muita atenção, talvez por ele ter o mesmo nome de meu pai. E a partir de então, passou a visitar-me nos dias de folga. Bebíamos quatro ou cinco cervejas tirando  gosto com panelada, que mais tarde vim a saber que em outros lugares  chamam de dobradinha.

Estava feita a dobradinha. Todo final de tarde, mesmo de serviço ele vinha para conversar e marcar uma visita para seu dia de folga. E vinha mesmo! Não falhava, nem tardava. Certo dia, veio trazendo a esposa, cujo nome não me recordo, porque mais de trinta anos se passaram.

Todos os dias, quando eu estava na janela,  Antonio aparecia. Ficava de olho no hotel, que, a partir de certa hora da noite, ele era ao mesmo tempo, vigia e porteiro. Aconteceu que minha filha passou a imitá-lo, gaguejando. Não para zombar, minha filha o imitava talvez por achar bonito, diferente, curioso ou muito interessante aquele modo de titubear, tropeçar nas palavras , repetindo pedaço de sílabas.

Ah, ia-me esquecendo. Fomos os padrinhos de Kátia. Depois da missa, e batizado a festinha, com bolo de primeiro aniversário, cerveja, almoço e refri. Tudo lá em casa.  Às custas de quem? Lógico, dos padrinhos: eu e minha mulher. E como minha mulher não trabalhava...

Que fazer com o compadre gato? Minha filha gaguejando e o compadre, o dia, de serviço ou de folga, postava-se em minha janela no entardecer. E se eu não estava na janela. Ele batia palmas até alguém atendê-lo.

— U-u-u cumpadre está?

Então, eu tinha que aparecer na janela. Não o convidava a entrar e trazia a cerveja para a janela, preocupado.... Ainda assim, minha filha ficava rondando por ali, prestando atenção em nossa conversa, principalmente, na fala dele...

Foi quando resolvi parar com.

Nois num vamo tomar uma cervejinha hoje não cumpad.

— Não, compadre. Fiz uns exames de rotina e o médico me proibiu beber. Estou engordando muito e o colesterol alto.

E com esta conversa, com esta enrolação...

Bem o compadre mudou-se para Brasília DF. Perdemos o contato e minha filha parou de gaguejar.

Já no ano dois mil e alguma coisa, aproximadamente doze ou quinze anos depois. Eu morando em Minas, atendi a uma ligação telefônica.

— Alô!

– A-a-alô! Sabe quem taaá falano?

—É o compadre Antônio, respondi.

— Coomo é o Sr. Acertou. É-é-éle mesmo?

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